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"PARIGI"
Receitas para os "sem-Fasano"
MARCOS NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
No prefácio de "Parigi", o
empresário Rogério Fasano
manifesta sua desconfiança sobre
aquilo que se convencionou chamar de cozinha de autor. Os chefs
dessa linha são fiéis a técnicas
francesas, mas permitem-se criar
pratos com ingredientes emprestados de outras culinárias. No
Brasil, a vertente resultou em cardápios com capivara e palmito
pupunha, massas e risotos, além
de alguma coisa assemelhada à
cozinha clássica francesa.
Rogério Fasano é um tradicionalista convicto. Em seus restaurantes, manteve sempre curtas as
rédeas dos chefs que trabalharam
para ele. No lugar da criação livre,
estimulou a pesquisa de receitas
consagradas italianas e o aprimoramento de sua execução.
Uma pequena ousadia do empresário foi a abertura, em 1998,
de um restaurante chamado Parigi, Paris em italiano. Na carta, comida francesa e comida italiana.
Nada de invenções supostamente
ítalo-francesas ou franco-italianas, o que poderia cutucar o orgulho nacionalista de um ou de outro. A fórmula agradou ao público
que frequenta os bons restaurantes de São Paulo.
A exemplo de seus irmãos mais
velhos, os restaurantes Fasano e
Gero, o Parigi ganha agora um livro. A edição é caprichadíssima,
as fotos são ótimas e os textos explicam minuciosamente a origem
de cada prato apresentado. Mas,
sem demérito algum aos autores,
isso tudo é acessório. O que interessa de fato em "Parigi" são as 46
receitas assinadas por dois chefs,
o francês Eric Berland e o italiano
Salvatore Loi.
A cozinha de autor também resultou em livros de culinária lindos. O grande problema com boa
parte deles é a ausência de funcionalidade. São livros ótimos para
enfeitar estantes, ao lado de volumes de arte e de arquitetura, mas
trazem receitas impraticáveis para aquele possuidor de um fogão
de quatro bocas que gosta de bancar o mestre-cuca aos finais de semana.
Não que as receitas de "Parigi"
sejam todas simples. Algumas
exigem a preparação prévia de
caldos e molhos, mas, com poucas exceções, não chegam a assustar quem tem um mínimo de intimidade com as panelas.
Ingredientes mirabolantes aparecem pouco. Há brincadeiras caras, como os 600 g de foie gras
fresco pedidos em uma receita de
terrine para quatro pessoas (na
Casa Santa Luzia, loja de produtos
especiais em São Paulo, tal compra sairia por "meros" R$ 150).
Para compensar, também há uma
singela insalata caprese, que não
exige mais do que tomates, mussarela de búfala, verduras, temperos e um pouco de coordenação
motora do cozinheiro.
Como livro de receitas, "Parigi"
cumpre perfeitamente o seu papel. Reúne clássicos franceses e
italianos que dificilmente apareceriam juntos em outro livro. As
fotos e as descrições dos pratos
dão vontade de comer, o que é
imprescindível para motivar alguém a se aventurar pela cozinha.
Todas as receitas já foram servidas várias vezes no restaurante,
ou seja, os eventuais ajustes já foram feitos e a chance de erros é
mínima.
Outro mérito do livro é a relativa democratização das receitas
com a grife Fasano. Os restaurantes Fasano, Gero e Parigi têm a
justa reputação de servir comida
de altíssima qualidade, com preços igualmente altos. Para os comilões menos abonados, os sem-Fasano, os R$ 68 pagos nas livrarias por "Parigi" acabam sendo
uma pechincha.
Parigi
Autor: J.A. Dias Lopes
Fotos: Romulo Fialdini
Editora: DBA
Quanto: R$ 68 (132 págs.)
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