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CRÍTICA
"Nemo" comprova humor à prova d'água
DA REPORTAGEM LOCAL
A premissa da relação pai e
filho é boa, o trabalho de animação por computador é impecável, mas o grande tesouro de "Procurando Nemo" vem sendo
lapidado desde os primeiros curtas de John Lasseter e da equipe
da Pixar, no final dos anos 80: o
domínio do ritmo e da piada.
Não é fácil. Marlín, o peixe-palhaço que protagoniza a história,
não faz ninguém rir de imediato,
apesar do nome. Depois de presenciar a morte da mulher e das
centenas de futuros "Marlín Jr.",
atacados ao mesmo tempo por
um predador, o peixinho listrado
apega-se a uma única ova sobrevivente: Nemo.
Medroso, Marlín torna-se um
pai superprotetor e vive alertando
o filho para os perigos de nadar
no mar aberto. Defeituoso de
uma nadadeira, resultado do
mesmo ataque em que perdeu a
mãe e os irmãzinhos, o pequeno
Nemo, no entanto, revela ter nem
a metade do medo do pai, decide
encarar o desafio e... vai parar em
um aquário de um mergulhador
em Sydney, na Austrália.
Daria para enumerar umas 350
animações nessa linha, perda-trauma-perda-superação, e logo
de cara vem à memória "Mogli 2",
da Disney, e "A Era do Gelo", de
Chris Wedge.
Mas a verdade é que "Procurando Nemo" nada para muito além
disso, para mares nunca dantes
navegados na construção de cenários e, sobretudo, na complexidade dos personagens.
Aproveitando as características
biológicas de cada espécie, o roteirista Andrew Stanton ("Toy
Story") compõe as passagens, diálogos e o bom humor da narrativa
em cima dos traços naturais da
"personalidade" de tartarugas
(preguiçosas, porém sábias), tubarões (ameaçadores, porém instintivos) e de alguns peixes menores e sua tendência a viver em cardumes, seus hábitos de "higiene" e sua memória curta. Menção à
parte mereceria a "neurose" dos
peixes nascidos e criados em
aquários domésticos.
Que a animação de seres humanos ainda esteja engatinhando
diante da tecnologia disponível
atualmente pouco importa: os
grandes clássicos, de Disney aos
Looney Tunes da Warner, nunca
nos dispensaram muita atenção
mesmo. Mas sejam brinquedos,
monstros, galinhas ou peixinhos,
o resultado reforça sempre a medida de nós próprios. Trágicos e
engraçados, solidários e egoístas,
são invariável e irremediavelmente humanos. Ao menos na voz.
(DIEGO ASSIS)
Procurando Nemo
Finding Nemo
Produção: EUA, 2003
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinearte, Ibirapuera e circuito.
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