São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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Telespectador vira mina de ouro ao pagar para participar de programas e entrar em chats; Band e SBT lançam "portal de voz" e empresa britânica banca o interativo "Swing com Syang", exibido na Gazeta

TVs brasileiras se abrem à interatividade caça-níquel

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem costuma passear por todos os canais da TV na madrugada provavelmente já se deparou com Syang, aquela loira tatuada que protagonizou barracos na "Casa dos Artistas 2", do SBT.
Parece mentira, mas o programa de cenário trash comandado por ela em plena madrugada da TV Gazeta é o primeiro fruto de um investimento milionário que tem o ambicioso objetivo de revolucionar a televisão brasileira.
"Swing com Syang" apresenta bandas alternativas e convidados praticamente desconhecidos, mas seu segredo está no chamado chat telefônico. Ao ligar para um número de celular exibido na tela -e pagar por isso-, o telespectador pode gravar recado para a apresentadora, ser escolhido para conversar com ela ao vivo ou entrar em salas de bate-papo.
O sistema, adotado também por SBT e Band na semana passada, parece ser um negócio de ouro para TVs, que têm a possibilidade de fazer pesquisas com a audiência, agregar conteúdo a seus programas e ainda pôr tudo na conta (telefônica) do telespectador.
As empresas donas da tecnologia do chat têm contrato com as operadoras de telefonia e ficam com uma porcentagem do valor da ligação. A emissora, dependendo do acordo, recebe parte desse lucro ou simplesmente não paga pelo novo -e útil- serviço.
No "Swing com Syang", um público formado principalmente por jovens das classes B e C torra salários e mesadas atrás de namoro ou amizade. O programa é exibido diariamente da 0h às 2h, e o chat fica no ar 24 horas. E há telespectador que passa até quatro horas jogando conversa fora com desconhecidos.
A tecnologia do chat e a produção do "Swing" são da britânica One World Interactive, uma das maiores distribuidoras de conteúdo digital do mundo. A empresa está presente em mais de 70 países e é responsável, por exemplo, pelo sistema de votação telefônica do "reality show" "Who Wants to Be a Millionaire", da rede inglesa BBC (algo como a eliminação do "Big Brother"). No Brasil há pouco mais de seis meses, a companhia divulga que investirá R$ 65 milhões no país ao longo de 2004.
A One World produz ainda o programa "Happy Lyne" (no ar após o "Swing"), com meninas de pouca roupa conversando com telespectadores e comandando jogos de perguntas e respostas. Fora isso, arrenda horários em vários canais para exibir seguidos comerciais de chats. Também elaborou técnica de participação de ouvintes para as FMs Energia 97 (97,7 MHz) e Mix (106,3 MHz).
Estreou, em parceria com a Bandeirantes, o "Alô Band", primeiro canal de interatividade voltado à programação completa de uma rede brasileira. Ao discar o número -também de celular-, o espectador pode opinar sobre os programas, concorrer a prêmios, conversar ao vivo com apresentadores e participar de chats com entrevistados.
Exemplo: um ginecologista participa do "Melhor da Tarde" e, após o programa, entra no chat telefônico para tirar dúvidas de telespectadores. "Nosso objetivo com o "Alô Band" é traçar um perfil de nossa audiência e definir o conteúdo da programação de acordo com a votação telefônica", diz Milton Turolla, diretor de novos negócios da Bandeirantes.
Só no primeiro dia, o "Alô Band" recebeu mais de 30 mil ligações, cujo custo, assim como no "Swing com Syang", é o de uma chamada normal de celular.
O "Portal de Voz do SBT" (preço de ligação de longa distância para celular mais impostos) estreou no "Programa do Ratinho", com 40 mil chamadas. Em breve, deve ir ao ar em todos os programas da casa. Dentre as opções, pode-se participar de promoções, bate-papo com telespectadores e gravar recados para artistas ("meta a boca no trombone para o Ratinho, deixe uma mensagem legal para o Gugu, uma gracinha para a Hebe ou fale francamente com a Sônia Abrão"). Há um jogo no qual o vencedor da semana recebe o seguinte "prêmio": conhecer o SBT e "fazer parte da platéia de seu programa favorito".
A tecnologia é concorrente da One World e foi elaborada pelo SBT, em parceria com a Vivo, Brasil Telecom e Suportecom, segundo a assessoria da emissora.
Por enquanto, não está nos planos da Band e do SBT mudar completamente o formato de sua programação, a fim de colocar a interatividade em primeiro plano. A participação do público ao vivo e os chats serão, no início, complementares ao conteúdo tradicional dos programas. Poderão ganhar mais espaço se houver resposta positiva da audiência.
Já o "Swing com Syang" foi justamente criado para veicular o chat e é totalmente bancado por ele (nem tem intervalo comercial, já que o horário é arrendado pela One World). Gira em torno da participação dos telespectadores ao vivo (que conversam com Syang e convidados) e da entrada da apresentadora nas salas de bate-papo -o que, de certa forma, inaugura um formato televisivo.
No ar desde maio, movimenta a estagnada programação da TV Gazeta e subiu consideravelmente sua audiência nas madrugadas. Quando estreou, registrava 0,2 ponto no Ibope (menos de dez mil domicílios na Grande São Paulo) -resultado chamado de "traço". Atualmente, a média está em 1,8 e o pico chega a 3,5 pontos (171,5 mil lares na Grande SP).
"No começo, a gente tinha até dificuldade para conseguir os convidados. Agora, as pessoas me ligam pedindo para participar do programa", afirma Syang.


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