DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

São Paulo, 25 de janeiro de 2004. Quarenta e cinco fotógrafos, de Norte a Sul do país, saem às ruas para fotografar a cidade no dia do seu aniversário de 450 anos, durante um período de 24 horas.
O resultado dessa experiência, idealizada pelos irmãos Eduardo e Fernando Bueno e o professor Rubens Fernandes Júnior, será conhecido na próxima quarta-feira, quando abre a exposição "São Paulo - 450 Anos em 24 Horas", promovida pela Nossa Caixa.
Além da mostra fotográfica, que reúne 94 imagens de diferentes aspectos da cidade naquele dia, será lançado o livro do projeto, uma publicação de 200 páginas, com mais de 400 imagens, acompanhadas de textos do escritor gaúcho Eduardo Bueno, 46.
Gaúcho? "Sou gaúcho, mas não exerço. Embora as pautas sejam minhas, o olhar é de 45 fotógrafos vindos do Brasil inteiro", conta Bueno, autor de best-sellers sobre a história do Brasil, como "A Viagem do Descobrimento" e "Capitães do Brasil", ambos publicados pela editora Objetiva.
O reencontro com a metrópole paulista -o escritor morou na cidade dos cinco aos 12 anos- começou a tomar forma em dezembro passado, quando promoveu a série de debates "Os Nascimentos de São Paulo". Nas mesas de discussões, que contavam com intelectuais como Aziz Ab'Saber, Nicolau Sevcenko e Lilia Moritz Schwarcz, já estavam alguns dos "personagens" do projeto fotográfico que renasce agora: os indígenas e os bandeirantes.
"A idéia era ajudar São Paulo a se enxergar melhor. Um povo que não sabe de onde veio não sabe para onde vai", afirma o gremista, sem esconder a ironia da frase.
Outro que não dispensou a camiseta do Grêmio para passar as suas 24 horas prostrado sobre a cobertura do edifício da Nossa Caixa -a 150 metros de onde a cidade foi fundada- foi seu irmão, Fernando Bueno, 49, que, além de estar na organização do projeto, também registrou a sua visão particular sobre a cidade. "Era um domingo, choveu, mas acho que São Paulo ajudou bastante. A cidade inteira estava em festa", lembra Fernando, que diz ter registrado uma das imagens mais bonitas de sua vida: o nascer do sol visto do terraço do edifício.
Mas não é só de personalidades históricas e arranha-céus que foi feita a maratona fotográfica daquele 25 de janeiro. Entre as cenas registradas, estão o tradicional churrasquinho grego, clicado por Manuel da Costa, o sempre movimentado aeroporto de Congonhas, por Pedro Martinelli, e até o prosaico -e colorido- motel Ky Luxatel. Não conhece? Perfeito. Nem o mais experiente motorista de táxi lhe dirá que conhece São Paulo de cabo a rabo.

Missão impossível
Uma das particularidades de "São Paulo - 450 Anos em 24 Horas" foi provavalmente o fator surpresa com o qual os fotógrafos participantes tiveram de lidar.
Desembarcados na cidade dois dias antes, os profissionais trazidos de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Pará, Bahia, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e, claro, São Paulo não haviam recebido as pautas com antecedência. Tiveram, portanto, de improvisar.
"Seria muito fácil, pela qualidade desses fotógrafos, passar a pauta um mês antes, e eles entregarem o resultado depois. Além da dificuldade de trazer e movimentar 45 pessoas durante essas 24 horas, as pautas eram complicadas: ser pobre em SP, ser rico em SP, nascer em SP, morrer em SP. Havia lugares de difícil acesso, mas tivemos uma colaboração muito legal da "instituição" SP."