|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ex-curadores concordam com formato
DA REPORTAGEM LOCAL
Conceitualmente, há consenso a
favor da extinção das representações nacionais. Quatro ex-curadores da Bienal, ouvidos pela Folha,
manifestaram-se a favor da proposta de Lisette Lagnado, mas dois
deles mostraram-se contra a proposta pois ela seria o fim da "galinha dos ovos de ouro", como denominou Nelson Aguilar, curador
da 22ª e 23ª edições.
"Realisticamente não é viável. É
um problema econômico, será
preciso uma diplomacia muito
bem feita, pois isso representa metade do valor do evento", conta
Aguilar. No entanto, o curador
afirma que, "se os curadores puderem viajar o suficiente, a Bienal vai
se transformar numa Documenta", a exposição alemã mais importante para as artes plásticas.
Na edição anterior da Bienal, os
EUA já não tiveram representação
nacional, preferiram pagar os artistas norte-americanos selecionados por Alfons Hug, o que a França
também aceita para a próxima edição. "Creio que não haverá problemas em patrocinar artistas franceses na Bienal", afirma o adido cultural Jacques Peigné.
Hug também mostra-se apreensivo com a medida: "Se é verdade
que nas representações nacionais
sempre existe um certo desnível
entre os países, também é verdade
que, nos últimos anos, a qualidade
artística e a forma de seleção têm
melhorado bastante nesta modalidade." Ainda segundo o curador
alemão, "isso vale especialmente
para os chamados países periféricos que vêm surpreendendo cada
vez mais com propostas inovadoras e radicais. Temo que, com a
abolição das representações nacionais, São Paulo perca um diferencial importante".
Mesmo assim, Hug acredita que
a mostra pode ganhar, do ponto de
vista conceitual: "É óbvio que, sem
as representações nacionais, a distribuição do espaço expositivo fica
mais fácil e que o conceito da curadoria ganha mais visibilidade".
Sem apresentar restrições, tanto
Sheila Leirner (18ª e 19ª Bienal)
quanto Agnaldo Farias (23ª e 25ª)
foram unânimes em apoiar a proposta de Lagnado. "É um grande
passo, o modelo Veneza não funciona mais. A Bienal precisa diminuir e a representação nacional é
um modelo anacrônico, que dá
mais errado do que certo. É preciso
um eixo mais claro", diz Farias.
Já Leirner afirma que "se realmente forem extintas as representações nacionais -coisa que fizemos simbolicamente em 85 e 87, já
com muita dificuldade diante da
resistência dos países à dissolução
espacial das fronteiras geopolíticas-, os meus parabéns vão, antes
de mais nada, ao presidente, à diretoria e à comissão de especialistas
da Fundação. São os dois primeiros que arcarão com os obstáculos
administrativos que certamente
decorrerão dela. E, em seguida, à
Lisette, por retomar também a
idéia do já saudoso Harald Szeemann, que tinha uma lúcida visão
sobre a mundialização da arte".
(FCY)
Texto Anterior: Bienal rompe fronteiras geopolíticas Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|