São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

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Ex-curadores concordam com formato

DA REPORTAGEM LOCAL

Conceitualmente, há consenso a favor da extinção das representações nacionais. Quatro ex-curadores da Bienal, ouvidos pela Folha, manifestaram-se a favor da proposta de Lisette Lagnado, mas dois deles mostraram-se contra a proposta pois ela seria o fim da "galinha dos ovos de ouro", como denominou Nelson Aguilar, curador da 22ª e 23ª edições.
"Realisticamente não é viável. É um problema econômico, será preciso uma diplomacia muito bem feita, pois isso representa metade do valor do evento", conta Aguilar. No entanto, o curador afirma que, "se os curadores puderem viajar o suficiente, a Bienal vai se transformar numa Documenta", a exposição alemã mais importante para as artes plásticas.
Na edição anterior da Bienal, os EUA já não tiveram representação nacional, preferiram pagar os artistas norte-americanos selecionados por Alfons Hug, o que a França também aceita para a próxima edição. "Creio que não haverá problemas em patrocinar artistas franceses na Bienal", afirma o adido cultural Jacques Peigné.
Hug também mostra-se apreensivo com a medida: "Se é verdade que nas representações nacionais sempre existe um certo desnível entre os países, também é verdade que, nos últimos anos, a qualidade artística e a forma de seleção têm melhorado bastante nesta modalidade." Ainda segundo o curador alemão, "isso vale especialmente para os chamados países periféricos que vêm surpreendendo cada vez mais com propostas inovadoras e radicais. Temo que, com a abolição das representações nacionais, São Paulo perca um diferencial importante".
Mesmo assim, Hug acredita que a mostra pode ganhar, do ponto de vista conceitual: "É óbvio que, sem as representações nacionais, a distribuição do espaço expositivo fica mais fácil e que o conceito da curadoria ganha mais visibilidade".
Sem apresentar restrições, tanto Sheila Leirner (18ª e 19ª Bienal) quanto Agnaldo Farias (23ª e 25ª) foram unânimes em apoiar a proposta de Lagnado. "É um grande passo, o modelo Veneza não funciona mais. A Bienal precisa diminuir e a representação nacional é um modelo anacrônico, que dá mais errado do que certo. É preciso um eixo mais claro", diz Farias.
Já Leirner afirma que "se realmente forem extintas as representações nacionais -coisa que fizemos simbolicamente em 85 e 87, já com muita dificuldade diante da resistência dos países à dissolução espacial das fronteiras geopolíticas-, os meus parabéns vão, antes de mais nada, ao presidente, à diretoria e à comissão de especialistas da Fundação. São os dois primeiros que arcarão com os obstáculos administrativos que certamente decorrerão dela. E, em seguida, à Lisette, por retomar também a idéia do já saudoso Harald Szeemann, que tinha uma lúcida visão sobre a mundialização da arte". (FCY)


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