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Filme lembra atletas desaparecidos
Com apresentação hoje em Porto Alegre, documentário "Atletas x Ditadura" aborda a "geração perdida" da Argentina
Filme dos brasileiros Marcelo Outeiral e Marco Vilallobos retrata casos como o da jogadora de hóquei desaparecida aos 22 anos
RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA
A safra de filmes que revisitam os porões das ditaduras latino-americanas continua dando frutos. Hoje será realizada,
em Porto Alegre, uma sessão
especial de "Atletas x Ditadura
- A Geração Perdida", um curto
documentário que revela histórias de atletas argentinos desaparecidos durante a ditadura
naquele país.
São quatro casos contados
com brevidade por parentes e
amigos dos desaparecidos.
A mãe de uma jogadora de
hóquei na grama lembra a última vez que ouviu a voz da filha:
a garota lhe disse que ia sair para almoçar com umas amigas e
nunca mais apareceu.
O filho de um tenista desaparecido fala de suas tentativas
para conhecer o que aconteceu
com o pai e com a mãe -seqüestrada quando o garoto tinha oito meses- como forma
de recuperar a própria história.
Parceiros de campo e amigos
relembram os atletas do La Plata Rugby Club, equipe que até
hoje sofre com a lembrança de
17 atletas desaparecidos ou
mortos entre 1975 e 1978.
E o treinador de um corredor
descreve o entusiasmo dele pelo esporte -veio ao Brasil três
vezes, para participar da São
Silvestre, viagens que talvez tenham contribuído para levantar suspeitas da polícia política.
O documentário foi feito nas
horas de folga, sem patrocínio,
pelos jornalistas Marcelo Outeiral, 35, e Marco Vilallobos,
47, com o apoio de um amigo
encarregado da câmera.
As filmagens duraram apenas oito dias, em janeiro do ano
passado, na Argentina, mas o
documentário só foi concluído
em maio último.
Antes, montaram uma versão menor, que foi apresentada
em festivais na Itália e na Venezuela. Agora, os realizadores
negociam a apresentação na
TV paga.
Um dos diretores, Outeiral,
gaúcho de Porto Alegre, editor
do "Globo Esporte", conversou
com a Folha nesta semana.
A seguir, trechos da entrevista com Outeiral.
FOLHA - Como surgiu o filme?
MARCELO OUTEIRAL - Começou
com o interesse pelos temas do
nosso continente, América do
Sul, principalmente essas questões que envolvem direitos humanos. Conhecendo um pouco
mais a história do Miguel Sánchez, que é o corredor do filme,
intensifiquei um pouco a investigação.
FOLHA - Como você descobriu a
história dele?
OUTEIRAL - Eu li uma nota num
jornal argentino. Aí consegui o
contato da irmã dele e passei a
pesquisar um pouco mais sobre
sua vida. Comecei a pesquisar
esse tema em 2006. Fiquei
mais ou menos um ano procurando casos de atletas desaparecidos durante as ditaduras.
FOLHA - O que você descobriu?
OUTEIRAL - Deu para constatar
que essa situação da Argentina
aconteceu, também, em quase
todos os países: Uruguai, Chile,
Bolívia e até mesmo no Brasil.
Militantes, guerrilheiros, que
tiveram uma história ligada ao
esporte na juventude.
FOLHA - O filme foca em quatro casos. Vocês conseguiram fazer um
balanço dos esportistas desaparecidos?
OUTEIRAL - Na Argentina, aproximadamente uns 30 atletas
dos mais diferentes níveis desapareceram durante os anos
da ditadura. No Brasil é diferente. Enquanto na Argentina
os atletas estavam mais desenvolvidos do ponto de vista da
competição, mais atuantes, no
Brasil, os jovens deixaram a
competição mais cedo para ir
para a militância.
FOLHA - No Brasil, vocês conseguiram ver quantos casos?
OUTEIRAL - Aproximadamente
dez casos. Alguns são mais conhecidos, não é? Como Stuart
Angel Jones, que até no filme
["Zuzu Angel", dirigido por Sérgio Rezende] aparece remando.
Tem o Oswaldo da Costa, o Oswaldão, que morreu no Araguaia e foi campeão de boxe. Há
alguns casos de militantes sobre os quais não há detalhes da
participação esportiva, é uma
linha dentro da biografia, sabe?
A Helenira Resende, uma guerrilheira superatuante no Araguaia, foi jogadora de basquete
na adolescência, em Assis, no
interior de São Paulo. E alguns
outros casos, remadores, jovens campeões estaduais de judô, essas coisas assim. Eles pararam mais cedo com o esporte
e entraram na militância com
mais força, digamos assim.
ATLETAS X DITADURA -
A GERAÇÃO PERDIDA
Quando: hoje, às 19h
Onde: Memorial do Rio Grande do
Sul (r. Sete de Setembro, 1.020,
Porto Alegre; inf.: 0/xx/51/3224-7210; classificação indicativa não
fornecida)
Quanto: entrada franca
NA INTERNET
www.folha.com.br/rodolfolucena
Leia mais sobre o
documentário
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