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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2008

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"Por equívoco", prefeitura apaga painel de artistas

Empresa "antipichação" cobre grafite com tinta cinza

AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Até agosto, o trabalho deles poderá ser visto no Tate Modern, um dos mais importantes museus do mundo, em Londres. Os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, que formam a dupla osgemeos, e Francisco Rodrigues, o Nunca, usaram lá o mesmo estilo de grafite dos painéis a céu aberto de São Paulo -que já não podem ser tão vistos pela cidade.
O trio descobriu que um de seus murais mais importantes na capital -de 680 metros, feito com mais três artistas plásticos (Nina Pandolfo, mulher de Otávio, Vitché e Herbert Baglione), na alça de acesso da 23 de Maio ao elevado Costa e Silva, na Bela Vista- foi coberto ontem com tinta cinza.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a prefeitura admitiu o "equívoco", cometido pela empresa contratada para apagar pichações de áreas públicas. A limpeza seria feita na região do painel e a equipe acabou estendendo o trabalho até o mural dos artistas, disse a assessoria. Em contato com a prefeitura, "notou o erro" e interrompeu a pintura, deixando intacto o trabalho no sentido Oeste-Leste da via.
"É desrespeito. A gente pinta castelo na Escócia, a Prefeitura de Nova York nos chama para fazer um painel lá. Somos respeitados e conhecidos no mundo todo. Aqui, em nossa casa, não", diz Otávio. A prefeitura pede que, agora, os artistas entrem em contato para informar outros espaços que tenham grafites autorizados.
O painel foi concluído em 2002, após três meses de trabalho -com autorização da então prefeita Marta Suplicy, por meio do então coordenador da juventude, Alexandre Youssef.
"Houve total apoio da prefeitura. Havia, inclusive, a logomarca do município no painel, apagada pela gestão seguinte. É uma lástima", afirma Youssef.

Retaliação
Osgemeos dizem que muitas de suas obras já sumiram da paisagem urbana. "Três grandes murais foram apagados. Dos menores, nem sei dizer", conta Otávio. Já o artista Nunca afirma ter de cem a 150 trabalhos cobertos com tinta.
"Estou indignado e aviso que terá retaliação. Não apagaram um mural, apagaram parte da história da arte paulista. A prefeitura precisa se desculpar publicamente", diz Nunca.
Nina Pandolfo completa: "Até que ponto a arte é uma sujeira para ser combatida com uma Lei Cidade Limpa? Arte suja a cidade?". Para ela, "São Paulo já não tem horizonte, só prédios. E eles são em tom de cinza, amarelo ou branco. Quando a gente coloca cor na parede, abre um horizonte".


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