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"Por equívoco", prefeitura apaga painel de artistas
Empresa "antipichação" cobre grafite com tinta cinza
AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Até agosto, o trabalho deles
poderá ser visto no Tate Modern, um dos mais importantes
museus do mundo, em Londres. Os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, que formam a dupla osgemeos, e Francisco Rodrigues, o Nunca, usaram lá o
mesmo estilo de grafite dos painéis a céu aberto de São Paulo
-que já não podem ser tão vistos pela cidade.
O trio descobriu que um de
seus murais mais importantes
na capital -de 680 metros, feito com mais três artistas plásticos (Nina Pandolfo, mulher de
Otávio, Vitché e Herbert Baglione), na alça de acesso da 23
de Maio ao elevado Costa e Silva, na Bela Vista- foi coberto
ontem com tinta cinza.
Por meio de sua assessoria de
imprensa, a prefeitura admitiu
o "equívoco", cometido pela
empresa contratada para apagar pichações de áreas públicas.
A limpeza seria feita na região
do painel e a equipe acabou estendendo o trabalho até o mural dos artistas, disse a assessoria. Em contato com a prefeitura, "notou o erro" e interrompeu a pintura, deixando intacto
o trabalho no sentido Oeste-Leste da via.
"É desrespeito. A gente pinta
castelo na Escócia, a Prefeitura
de Nova York nos chama para
fazer um painel lá. Somos respeitados e conhecidos no mundo todo. Aqui, em nossa casa,
não", diz Otávio. A prefeitura
pede que, agora, os artistas entrem em contato para informar
outros espaços que tenham
grafites autorizados.
O painel foi concluído em
2002, após três meses de trabalho -com autorização da então
prefeita Marta Suplicy, por
meio do então coordenador da
juventude, Alexandre Youssef.
"Houve total apoio da prefeitura. Havia, inclusive, a logomarca do município no painel,
apagada pela gestão seguinte. É
uma lástima", afirma Youssef.
Retaliação
Osgemeos dizem que muitas
de suas obras já sumiram da
paisagem urbana. "Três grandes murais foram apagados.
Dos menores, nem sei dizer",
conta Otávio. Já o artista Nunca afirma ter de cem a 150 trabalhos cobertos com tinta.
"Estou indignado e aviso que
terá retaliação. Não apagaram
um mural, apagaram parte da
história da arte paulista. A prefeitura precisa se desculpar publicamente", diz Nunca.
Nina Pandolfo completa:
"Até que ponto a arte é uma sujeira para ser combatida com
uma Lei Cidade Limpa? Arte
suja a cidade?". Para ela, "São
Paulo já não tem horizonte, só
prédios. E eles são em tom de
cinza, amarelo ou branco.
Quando a gente coloca cor na
parede, abre um horizonte".
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