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6ª FLIP
Para Tom Stoppard, fazer peças difíceis seria uma "loucura"
Bem-humorado,
dramaturgo faz 71
anos durante a
Flip, defende
teatro claro e
comenta saída da
Tchecoslováquia
Principal estrela da Festa
Literária de Paraty, Stoppard
afirma ser "de esquerda
para algumas coisas e de
direita para outras"
MARCOS STRECKER
EDUARDO SIMÕES
ENVIADOS ESPECIAIS A PARATY
Tom Stoppard mostrou ontem por que é a principal estrela da 6ª Flip. Bem-humorado,
fez questão de lembrar que estava passando seu aniversário
de 71 anos em Paraty. E que havia sido uma boa surpresa estar
em um lugar preparado para a
literatura. "É incomum um tributo, a essa altura, à literatura."
Em entrevista coletiva, Stoppard defendeu um teatro claro,
disse que fazer peças difíceis
seria "uma loucura". Mostrou
que não tem preconceito contra musicais ou outras formas
de dramaturgia ("Prefiro dramas sérios, mas há musicais de
ótima qualidade"). E se disse
ainda um leitor compulsivo de
jornais e revistas. Leia a seguir
trechos de entrevista exclusiva
à Folha.
FOLHA - Harold Pinter é conhecido
pelas posições de esquerda, enquanto importantes escritores, como Martin Amis, por sua postura
conservadora. O sr. é considerado
por muitos como antiesquerdista.
Como o sr. se definiria?
TOM STOPPARD - A questão da
esquerda e da direita é muito
simplista. No caso de Harold
Pinter, trata-se o tempo todo
dos EUA. Já para Martin Amis
é o islamismo. Mas, para mim,
suas posições não são políticas,
e sim morais. A política aparece
como conseqüência, mais do
que num nível primário da argumentação. Sou de esquerda
para algumas coisas, de direita
para outras. Mudo de opinião a
respeito das coisas.
FOLHA - O sr. é o principal convidado de um festival literário. Como vê
a relação entre o teatro e as letras?
STOPPARD - Para mim, há uma
forte relação entre teatro e literatura, porque as minhas peças
estão mais disponíveis em livros do que em palcos. Especialmente aqui. Mas, para ser
honesto, para mim teatro não é
um texto, é um evento. A relação é forte porque usamos o
mesmo meio. Até que a peça
chegue a um ensaio, a sua escrita é tão particular quanto a de
um poema ou romance. Trata-se apenas de uma pessoa, uma
folha de papel e uma caneta.
Atualmente há os computadores. Mas eu uso uma caneta.
FOLHA - O sr. nasceu na antiga
Tchecoslováquia, país que foi fortemente afetado pelos movimentos
de 1968. Como vê a herança cultural
e política daqueles acontecimentos?
STOPPARD - Uma das coisas estranhas e curiosas de ser dramaturgo é que você responde a
perguntas geralmente feitas a
Henry Kissinger, ao papa ou a
um filósofo político. Claro que
tenho reações a muitas coisas,
inclusive a 68. Mas não me pergunto qual foi a herança.
Saí da Tchecoslováquia
quando tinha um ano e meio.
Fui para a Índia e cheguei aos
oito anos na Inglaterra. Minha
mãe se casou com o sr. Stoppard, meu padrasto. Fui a Praga
pela primeira vez aos 40.
Tornei-me inglês, para ser
honesto. Foi só há 20, 30 anos
que me envolvi com a idéia de
que tinha vindo da Tchecoslováquia. A herança de 68 é muito
complicada. Na minha peça
"Rock'n'Roll", há um personagem que diz que o mundo do
mercado livre, do capitalismo e
das democracias ocidentais
não foi aquilo por que a revolução de veludo lutou. Mas a
Tchecoslováquia se tornou
parte de uma outra coisa em 69.
Odiei e odeio a idéia de uma sociedade totalitária. Mas não tenho ilusões sobre o que se seguiu, que foi, em certo nível, a
velha corrupção ocidental.
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