São Paulo, sábado, 04 de agosto de 2001

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"DO OUTRO LADO DA MANCHA"

Julian Barnes vê canal entre as pessoas

DA REDAÇÃO

Na primeira história de "Do Outro Lado da Mancha", o compositor inglês imaginário Leonard Verity, que vive na França e é casado com uma francesa, diz que não é um imigrante -porque não quer se adaptar, nem um exilado -pois não voltará jamais à Inglaterra.
Num mundo que se transforma com a globalização e a queda de fronteiras na União Européia, o significado da palavra estrangeiro está no centro dos enredos criados pelo inglês Julian Barnes em "Do Outro Lado da Mancha". Suas histórias são vividas por turistas, visitantes, imigrantes e auto-exilados ingleses na França.
Os contos são criados sobre cenários de transformação das relações das duas sociedades nos últimos três séculos e mostram como esse processo foi marcado pelas diferenças religiosas de ambas.
Mas a coletânea está longe de ser um tratado de antropologia cultural sobre as diferenças entre França e Inglaterra. Desde o princípio, Barnes deixa claro que sua preocupação é o "canal da Mancha" que cada um constrói entre si próprio e o mundo à sua volta.
Relacionamentos amorosos frustrados aparecem aqui e ali. O motivo da falência das relações -a incompreensão do outro- é logo comparado por Barnes com a incomunicabilidade entre as culturas. É assim em "Interferência", sobre o compositor inglês e sua mulher francesa, ou em "Brambilla", sobre o ciclista inglês obcecado com a carreira, em uma temporada francesa de ciclismo.
Em "Eternamente", uma velha senhora inglesa lembra de como levou sua vida a guardar o túmulo do irmão, um soldado morto na Primeira Guerra, na França. Ela passeia nos cemitérios de guerra, entre cruzes francesas e lápides inglesas, imaginando histórias para as iniciais gravadas na pedra.
Em "Entroncamento", temos a intolerância dos padres católicos franceses frente aos novos costumes trazidos pelos engenheiros e operários ingleses que vão à França durante o século 19, para a construção de ferrovias.
Escrito originalmente em 96, o livro mostra que Barnes não acredita numa aproximação dos dois países, com ou sem globalização. Ao admirar a diversidade e torcer pela diferença entre França e Inglaterra, também assume como inevitável o "canal da Mancha" entre cada um e os que o rodeiam.
(SYLVIA COLOMBO) Do Outro Lado da Mancha
Cross Channel
    
Autor: Julian Barnes
Tradução: Roberto Grey
Editora: Rocco
Quanto: preço não definido (170 págs.)



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