|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"DO OUTRO LADO DA MANCHA"
Julian Barnes vê canal entre as pessoas
DA REDAÇÃO
Na primeira história de "Do
Outro Lado da Mancha", o
compositor inglês imaginário
Leonard Verity, que vive na França e é casado com uma francesa,
diz que não é um imigrante
-porque não quer se adaptar,
nem um exilado -pois não voltará jamais à Inglaterra.
Num mundo que se transforma
com a globalização e a queda de
fronteiras na União Européia, o
significado da palavra estrangeiro
está no centro dos enredos criados pelo inglês Julian Barnes em
"Do Outro Lado da Mancha".
Suas histórias são vividas por turistas, visitantes, imigrantes e auto-exilados ingleses na França.
Os contos são criados sobre cenários de transformação das relações das duas sociedades nos últimos três séculos e mostram como
esse processo foi marcado pelas
diferenças religiosas de ambas.
Mas a coletânea está longe de
ser um tratado de antropologia
cultural sobre as diferenças entre
França e Inglaterra. Desde o princípio, Barnes deixa claro que sua
preocupação é o "canal da Mancha" que cada um constrói entre
si próprio e o mundo à sua volta.
Relacionamentos amorosos
frustrados aparecem aqui e ali. O
motivo da falência das relações
-a incompreensão do outro- é
logo comparado por Barnes com
a incomunicabilidade entre as
culturas. É assim em "Interferência", sobre o compositor inglês e
sua mulher francesa, ou em
"Brambilla", sobre o ciclista inglês
obcecado com a carreira, em uma
temporada francesa de ciclismo.
Em "Eternamente", uma velha
senhora inglesa lembra de como
levou sua vida a guardar o túmulo
do irmão, um soldado morto na
Primeira Guerra, na França. Ela
passeia nos cemitérios de guerra,
entre cruzes francesas e lápides
inglesas, imaginando histórias
para as iniciais gravadas na pedra.
Em "Entroncamento", temos a
intolerância dos padres católicos
franceses frente aos novos costumes trazidos pelos engenheiros e
operários ingleses que vão à França durante o século 19, para a
construção de ferrovias.
Escrito originalmente em 96, o
livro mostra que Barnes não acredita numa aproximação dos dois
países, com ou sem globalização.
Ao admirar a diversidade e torcer
pela diferença entre França e Inglaterra, também assume como
inevitável o "canal da Mancha"
entre cada um e os que o rodeiam.
(SYLVIA COLOMBO)
Do Outro Lado da Mancha
Cross Channel
Autor: Julian Barnes
Tradução: Roberto Grey
Editora: Rocco
Quanto: preço não definido (170 págs.)
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Mônica Bergamo: Últimas palavras Índice
|