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HIP HOP
Ministro defende integração cultural em encontro com artistas paulistanos, na abertura do festival "Agosto Negro"
Gil propõe intercâmbio entre rappers e repentistas
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro da Cultura, Gilberto
Gil, propôs na sexta-feira a rappers paulistanos um programa de
intercâmbio com repentistas nordestinos. A proposta foi lançada
na abertura do festival "Agosto
Negro", na Prefeitura de São Paulo, durante solenidade com Gil e
representantes do movimento local de hip hop.
Afirmando que os rappers norte-americanos desenvolvem a técnica do improviso e que os brasileiros ainda não aprenderam a fazê-lo, Gil promoveu uma votação
entre os presentes. Queria saber
se eles aceitariam viajar para
Campina Grande (PB), com
apoio do Ministério da Cultura,
para um encontro com repentistas da Casa do Cantador.
Presente na mesa, o rapper
Thaíde, um dos iniciadores do hip
hop em São Paulo, respondeu a
Gil em forma de improviso, contestando que os rappers daqui
não dominassem a técnica.
"Com relação a vocês as pessoas
ainda não sabem. Acham que vocês não têm essa parte da mente
desenvolvida", respondeu o ministro, que diante da votação positiva se comprometeu a viabilizar
o encontro entre o "rap" e o "rep".
Thaíde leu em voz alta o protocolo de intenções que o movimento entregava ao MinC, em
nome da Comissão Força Hip
Hop. O documento propõe ações
integradas entre o ministério e comunidades ligadas ao hip hop.
"Vou mandar protocolar. O
MinC se sente estimulado em ver
vocês finalmente começando a
acrescentar às suas linguagens a
linguagem documental, que sacramenta a ligação entre vocês e o
Estado, entre vocês e a política",
disse Gil.
Houve exposições da prefeita
Marta Suplicy, do secretário municipal de Cultura, Celso Frateschi, do coordenador de Juventude
da Prefeitura, Alexandre Youssef,
e de vários representantes da cultura hip hop.
Manifestações dos rappers evidenciaram a novidade do contato
oficial com instâncias municipais
e federais de governo. "Os manos
e as minas, quem diria, a gente
aqui nesta casa. Satisfação, satisfação", disse Rappin" Hood, que defendeu que o hip hop precisa crescer também em qualidade.
Pioneiro dançarino de break,
Nelson Triunfo foi chamado à
mesa pelo rapper Xis e deu testemunho parecido. "No começo jogavam creolina na calçada para
não podermos dançar na rua. Tomei muita porrada da polícia, fui
preso várias vezes, mas resistência
é resistência", afirmou.
O secretário Frateschi sublinhou a intenção do governo de
utilizar eventos como o "Agosto
Negro" como meios de inclusão
social e desenvolvimento cultural.
"O que queremos fazer é quase
uma catequese ao viés: permitir
que a cidade aprenda a cidade,
não que sua elite imponha uma
cultura à cidade, como sempre
foi", disse, conclamando os rappers a que "ocupem seu espaço
institucional nos conselhos regionais de cultura".
Gil discursou valendo-se de batuques na mesa, trechos de rap de
sua autoria ("o povo sabe o que
quer/ mas o povo também quer o
que não sabe", fez a platéia repetir) e filosofia oriental.
Classificou os rappers como
uma nova geração ("eu sou da outra geração") e pregou o "respeito
a cada uma das muitas correntes,
sem fundamentalismos, sem hegemonias, sem que cada corrente
queira ser a dona da verdade".
Cobrou à comunidade hip hop
a lembrança de sua raiz brasileira
e aconselhou: "Vocês têm que ser
humildes. Dorival Caymmi já era
seu pai, antes de vocês. Não percam a humildade. Cuidado".
Daí abriu caminho à proposta
de união entre rap e repente, que
encerrou o evento. O debate acabou não se caracterizando como
tal -ao final, pessoas da platéia
protestaram: "Cadê o debate?".
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