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São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

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TEATRO

Recém-traduzida, única peça do autor de "Ulisses" é lida hoje no Teatro Folha por atores como Marília Pêra e José Wilker

Forma e desejo guiam "Exilados" de Joyce

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Alípio Correia de Franca Neto, que traduziu a peça "Exilados", de James Joyce, para o português


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Peça-única do escritor irlandês James Joyce, recém-traduzida no país por Alípio Correia de Franca Neto, 37, "Exilados" (1914-15) ecoa agora em leitura dramática que acontece hoje em São Paulo.
Os atores José Wilker, Marília Pêra, Etty Fraser, Roberto Bomtempo e Guilhermina Guinle participam do evento no Teatro Folha. A direção é de Jorge Takla.
Resultado de conflitos amorosos de Joyce (1882-1941), de sua perseverança com a forma/linguagem e, indiretamente, de admiração pelo teatro do norueguês Henrik Ibsen (1828-1906), "Exilados" foi definida pelo autor como "um corpo-a-corpo entre o Marquês de Sade e Sacher-Masoch", leia-se sadomasoquismo.
É uma boa pista para um enredo pleno em subtextos e ambiguidades que abrem janelas a cada fala dos personagens.
Entre os protagonistas, estão o escritor Richard Rowan, casado com a jovem Bertha, cujo desejo oscila entre a culpa e a inocência. O jornalista Robert Hand deixa aflorar a atração pela mulher do melhor amigo, este que se deleita com o "frisson do adultério".
Leia, a seguir, trechos da entrevista com o tradutor paulistano Franca Neto.
 

Folha - "Exilados" permite mensurar o quanto o drama, então latente em Joyce, vai se tornar um poderoso recurso literário em seus romances?
Alípio Correia de Franca Neto -
Acredito que a noção que Joyce tem de drama é fundamental para seu trabalho de escritor. Para Joyce, há drama, o conflito entre as eternas paixões humanas, e literatura, considerada por ele sinônimo de convenções literárias, adotadas pelos povos em diversas épocas para retratar a experiência humana na Terra. Quando essas modalidades literárias são insuficientes para tanto, dá-se uma explosão das formas. Isso explica o contínuo uso e abandono dessas mesmas formas em sua obra.
Além disso, grosso modo, o método que ele emprega na apresentação de cenas individuais em "Ulisses" revela o método elíptico do dramaturgo, que deve proceder a um processo de seleção, que deve fazer com que o passado, por exemplo, aflore na narrativa.
Em sua hierarquia dos gêneros, o "dramático" ocupa o primeiro lugar. É interessante comparar, guardadas as diferenças, as célebres páginas em que Stephen trata do assunto em "Retrato do Artista Quando Jovem" e os escritos em prosa de Fernando Pessoa -um poeta essencialmente "dramático"- sobre os heterônimos e os graus de lirismo.

Folha - A "dúvida" parece constituir o vórtice do triângulo Richard-Bertha-Robert, dúvida que alimenta o jogo subliminar, por vezes explícito, da sedução. A ambiguidade é a lenha dessa locomotiva?
Franca Neto -
É também. As ambiguidades minam nossas certezas quanto ao que vemos, e elas, juntamente com certa visão relativista, constituem a mais típica das estratégias modernistas: a ironia céptica. Na vida, por exemplo, a dúvida permeia as relações entre as pessoas. Tal é o compromisso de Joyce com o "real".

Folha - O sr. tem notícias de alguma outra tradução da peça em português, ou mesmo de montagem teatral?
Franca Neto -
Há uma tradução publicada em Portugal, que não tive oportunidade de ler. Quanto à montagem da peça no Brasil, ignoro que tenha havido uma, à exceção de algumas cenas apresentadas em eventos.


LEITURA DA PEÇA "EXILADOS". Quando: hoje, às 20h. Onde: Teatro Folha (shopping Pátio Higienópolis, av. Higienópolis, 618, 2º piso, São Paulo). Quanto: grátis (interessados devem fazer reservas hoje, das 13h às 18h, pelo tel. 0/ xx/11/3224-3473, ou enviar o nome completo para o e-mail eventofolha@folhasp.com.br).


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