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QUADRINHOS
Desenhista da personagem Valentina, italiano morreu na semana passada, aos 70 anos
Guido Crepax elevou HQ ao status de arte
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Marquês de Sade, Simone de
Beauvoir, Jean-Paul Sartre, Louise
Brooks, Kafka, Rembrandt, Samuel Beckett, Eisenstein e sexo. O
que isso tudo tem a ver? Eles ajudaram o italiano Guido Crepax,
morto aos 70 anos em decorrência de uma esclerose múltipla na
última quarta-feira, em Milão, a
conferir às histórias em quadrinhos européias o status de arte.
Nascido em 15 de julho de 1933,
Crepax formou-se em arquitetura, desenhou soldadinhos de
guerra para jogos infantis na década de 50 e ilustrou histórias publicitárias para uma revista de
medicina até ser descoberto pela
equipe da revista "Linus", que
editava as histórias de Charlie
Brown.
Mas seria só no quarto número
da publicação, em julho de 1965,
que o desenhista e escritor italiano entraria para a história das histórias em quadrinhos. E a culpa é
de Valentina. Criada inicialmente
como coadjuvante de Neutron,
um crítico de arte com poderes
especiais, a morena chanel de corpo escultural roubou a atenção de
Deus e o mundo e se tornou protagonista da série, ganhando seu
primeiro álbum solo em 1967.
Publicadas no Brasil pelos fanzines "Grilo" e "Balão" e, posteriormente, pelas editoras LP&M e
Martins Fontes, as aventuras de
Valentina reuniram as grandes
paixões de Crepax: HQs de Flash
Gordon, teorias oníricas freudianas e a vamp do cinema Louise
Brooks, declarada inspiração para
o visual de Valentina -veladamente, falava-se também em Luisa Crepax, a mulher do escritor.
Lidas em diversos planos, suas
histórias transitavam da realidade
de Valentina -"uma mulher de
carne e osso", como bem resumiu
Marco Aurélio Lucchetti em seu
"As Sedutoras dos Quadrinhos"
(Opera Graphica, 2001)- aos sonhos, lembranças e, principalmente, às leituras de Valentina, o
retrato da "self-made woman"
culta das décadas de 60 e 70.
"A grande contribuição de Crepax foi romper com os padrões de
narrativa e diagramação dos quadrinhos da época", lembra o pesquisador Álvaro de Moya, sobre a
forma irregular com que Crepax
dividia as páginas, sempre em favor do melhor ângulo para retratar as suas beldades, incluída aí a
lourinha Anita, que descobria
diante do televisor que o aparelho
era sua única e interminável fonte
de prazer. Sim, sexual.
A imaginação fértil do quadrinista italiano rendeu ainda verdadeiras obras-primas baseadas em
histórias de Sade ("Justine"), Arsan ("Emanuelle"), Pauline Réage
("História de O.") e Sacher-Masoch ("A Vênus das Peles"), além
de adaptações para os clássicos
"Frankenstein" e "Drácula". Seu
outro vício, o jazz, foi declarado
em "O Homem do Harlem", homenagem ao saxofonista Charlie
"Bird" Parker publicada em 1978.
Pai, perdoai os seus pecados...
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