GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

O rock não seria tão subversivo sem suas lendas, quase sempre ambientadas em um universo de sexo, drogas e guitarras e protagonizadas por revolucionários de 20 e poucos anos que nunca chegam a cumprir de todo o seu potencial, queimando rapidamente em vez de desaparecer lentamente.
A lenda do primeiro e brilhante líder do Pink Floyd, que embarcou nos excessos da psicodelia para nunca mais voltar, é esmiuçada no documentário da BBC "A História do Pink Floyd e Syd Barrett", que o Multishow exibe hoje.
Barrett era a figura central da primeira formação do Pink Floyd. Foi dele a idéia de nomear a banda em homenagem aos obscuros bluesmen Pink Anderson e Floyd Council. E foi ele também o compositor da maior parte das canções do álbum de estréia da banda, "The Piper at the Gates of Dawn", de 67, uma obra-prima do rock psicodélico.
Turbinado por doses maciças de LSD, Barrett escreveu letras surpreendentes, abusando do esoterismo e das associações livres, em canções como "Astronomy Dominé", "The Gnome" ou na quase infantil "Bike".
Mas Barrett alucinou demais e não conseguiu mais tocar. Suas famosas ausências no palco -ele parava de tocar e ficava encarando calado a platéia- forçaram a banda a substituí-lo por seu amigo de infância David Gilmour.
Fora do Pink Floyd, Barrett lançou dois discos com produção de Gilmour, o ótimo "The Madcap Laughs", com letras desconexas e melodias fraturadas, e o mais sombrio "Barrett", que deixava patente seu estado de alienação. Sem voltar a tocar ao vivo, Barrett sai de cena e de órbita.
Seu fantasma, contudo, continuou a ser uma força decisiva na criação do Pink Floyd, aparecendo de modo mais explícito em canções como "Brain Damage", do clássico "The Dark Side of the Moon" (73), no disco-homenagem "Wish You Were Here" (75) e, de novo, em "The Wall" (79).
E é esse fantasma que ronda os depoimentos de todos os membros do Pink Floyd no documentário e dá a ele um tom incômodo de obituário em vida.