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COMIDA
A argentina Inés Berton lança no Brasil os chás que fascinaram o cantor Lenny Kravitz e o diretor Luc Besson
Chalosofia
CRISTIANE LEONEL
DA REPORTAGEM LOCAL
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE DOMINGO
O que há em comum entre o rei
da Espanha, Juan Carlos 2º, o dalai-lama, o diretor Luc Besson, o
cantor Lenny Kravitz e a "popstar" Shakira? Todos são fregueses
da argentina Inés Berton, 32, considerada uma das principais especialistas em chá no mundo.
Para o rei, ela preparou no ano
passado o chá Dom Quixote, misturado com frutas vermelhas. Para o dalai-lama, uma combinação
com jasmim. Shakira adora aromas de especiarias. E Luc Besson
pediu uma variação a partir de
um raro chá branco.
Berton "desenha" e produz
chás. Ela adquire as folhas no
Oriente, combina-as com outros
ingredientes e aromas e os transforma em produtos com nomes
evocativos como Green Cornelia,
Sophie, Royal Fruit -este um chá
preto feito para o Brasil.
Berton veio a São Paulo para um
evento que marca a criação de
uma carta de chás para o restaurante D.O.M., de Alex Atala, que
há muito era fã do trabalho da argentina e utiliza no seu estabelecimento os chás da marca Inti Zen,
cujos blends foram elaborados
por ela. Berton também veio divulgar sua marca, a Tealosophy
(Chalosofia), cujos produtos devem chegar ao Brasil no final de
setembro e estarão disponíveis
em restaurantes e empórios de luxo. Apesar de a iniciativa de montar uma carta de chás ser bastante
inovadora no Brasil, Berton já foi
responsável pela elaboração de
blends para restaurantes do mundo todo, inclusive o do famoso
chef Ferran Adrià, o El Bulli.
Tealosophy é também o nome
da loja de Berton em Buenos Aires, de um CD, de um livro de introdução ao chá e, embalando o
conjunto, de uma idéia de cultura
ligada à bebida. "A tealosophy é
um pequeno luxo acessível", diz.
Por ter um "olfato absoluto",
Berton pretendia estudar perfumaria. Foi para a França, matriculou-se numa escola de perfumes,
mas, como detestava química, desistiu da carreira. Em Nova York,
onde viveu oito anos, se envolveu
com o estudo e a prática do chá.
Passou a aprender com mestres
orientais e a visitar regularmente
a China, o Japão, o Sri Lanka e a
Índia. Nesses países se cultiva as
melhores folhas da Camellia sinensis, a planta da qual se faz todos os chás e que está na origem
do mundo variado e complexo da
bebida, feito de numerosos sabores e aromas -uma cultura antiga e tão rica quanto a do vinho.
Berton tornou-se uma especialista de renome entre os cultores e
fabricantes de chá, sendo solicitada por indústrias, restaurantes e
celebridades. É citada como um
dos "teanoses" (narizes para chá)
mais sensíveis do planeta.
E o que ela acha dos "chás" brasileiros? Quando aproxima o nariz de um saquinho de "chá de cidreira", afasta-se como se tivesse
levado um bofetão. "Não é chá, é
uma infusão", diz. O mesmo se
aplica ao que chamamos "chá de
erva-doce", "chá de camomila"
etc... Uma infusão não leva a preciosa Camellia: é feita da própria
planta que lhe dá o nome.
De um chá preto famoso, ela
corrige: "Não é um Orange Pecoe,
como está escrito na caixa, mas
um Fanning, mais barato". De um
chá mate, elucida: "Não é um chá,
não provém da Camellia, mas sim
da planta mate".
Para a maioria dos brasileiros, o
reino maravilhoso do chá é ainda
uma terra a ser descoberta.
Folha - Como você "desenha",
cria um chá?
Inés Berton - Todo chá vem da
mesma planta, a Camellia sinensis, que tem diferentes colheitas,
conforme a região. Depois, às folhas dessa planta você acrescenta
os ingredientes e os perfumes. Para o chá Vanilla Tiger, usei chá do
Sri Lanka, baunilha de Madagascar e cacau da Venezuela. O chá
que eu fiz para o Brasil, Royal
Fruit, é uma colheita de chá preto
também do Sri Lanka, misturado
com aroma de manga e papaia e
com pétalas de hibiscos.
Folha - É pecado usar açúcar, mel
ou leite no chá?
Berton - O grande pecado é o
adoçante, que é muito metálico.
Quanto ao leite, há alguns chás
que o suportam, mas nunca o chá
verde. Na Índia se toma o Indian
Market com muito açúcar e leite
de cabra. É fantástico. O English
Breakfast pode ficar bem com
açúcar. É melhor experimentar o
chá e verificar se ele realmente
precisa. Muitos já contêm elementos doces, como mel. Eu prefiro tomar sem açúcar.
Folha - O que acha do chá gelado?
Berton - Eu adoro. Mas é preciso
saber fazê-lo. Há uma maneira
impecável: você deixa o chá esfriar na temperatura ambiente,
num jarro, e coloca metade do líquido numa forma de gelo. Quando os cubos estiverem congelados, vocês os despeja na outra
metade de chá (líquido) que deixou no jarro esperando.
Folha - Por que o café superou o
chá no gosto popular do Ocidente?
Berton - Porque o café tem muito a ver com a nossa cultura, com
sua correria e sua exaltação. No
Oriente, é preciso estudar seis
anos para a cerimônia do chá. É
um outro ritmo.
Folha - No Oriente, o chá está associado há séculos a uma filosofia
de vida. O que significa "filosofia
do chá", como você diz, nesta época de supervelocidade?
Berton - A Tealosophy é um pequeno luxo acessível. O que eu
pretendo é fundir duas culturas, a
ocidental e a oriental, e criar um
tempo de puro desfrute na vida
estressante, uma pausa. O chá é isso: o tempo de colocar uma água
para ferver, de escolher uma xícara, de selecionar as folhas que vai
usar... É um desfrute intelectual
deste luxo que é o tempo.
ONDE COMPRAR
Os chás de Inés Berton são vendidos em
Buenos Aires na loja Tealosophy (av. Alvear, 1.883, tel. 00/xx/54/11/4808-0483).
Cada lata custa em média R$ 20. No Brasil, os chás serão vendidos no D.O.M. (r.
Barão de Capanema, 549, tel. 0/xx/11/
3088-0761). Preços a definir. Os chás da
Inti Zen são vendidos na Casa Santa Luzia (al. Lorena, 1.471, tel. 0/xx/11/3897-5000) por R$ 14,40 (caixa c/ 15 sachês)
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