São Paulo, segunda, 4 de agosto de 1997.



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Vida do escritor é obra à parte

Da Publifolha

Vida e obra de William S. Burroughs se interpenetram intensamente sem que jamais consigamos detectar as fronteiras entre sonho e realidade, ficção e mentira.
Para acompanhá-las, vida e obra, há que se ter boa disposição física e mental: atravessar o globo durante duas décadas; encarar anos de droga na veia, narinas, pulmões e neurônios. E, além disso, não ter o menor pudor em escancarar sua homossexualidade como legítimo direito de ir e vir.
De todos os livros que escreveu, e não obstante sua considerável participação em uma meia dúzia de filmes, apenas "Almoço Nu" conseguiu ser transposto ao cinema.
O diretor David Cronenberg transformou o autor em personagem e jogou-o no cenário expressionista de Interzona, cidade internacional, planetária, habitada por seres originários de cruzamentos múltiplos entre todas as raças.
E onde também os arquétipos mais profundos do inconsciente tomam de assalto os sonhos e se misturam à realidade das ruas.
A origem do autor é abastada. Seu avô inventou a calculadora. Na juventude estudou em Harvard e partiu para a Europa, curioso com as experiências psicanalíticas então explodindo em Viena e Paris.
Nos anos 30, o jovem Bill vidra na cocaína da cena "fashion" da Europa entre-Guerras. Escapa da convocação para a Segunda Guerra e se instala em Nova York, consumindo muito Kafka, Freud, Rimbaud, Joyce, Reich e heroína.
É aí que conhece Jack Kerouac e Allen Ginsberg, ainda semi-adolescentes, sendo expulsos da Universidade de Columbia.
A influência de Burroughs é imediata e a amizade acaba se transformando numa espécie de "Santíssima Trindade" da geração beat. Mas Burroughs só começou a escrever com quase 40 anos de idade, estreando com "Junky" (1953).
"Almoço Nu" foi escrito em Tanger e salvo do lixo por Ginsberg e Kerouac. Desintoxicou-se em Londres no mesmo ano e, com o artista Brion Gysin, começa a experimentar o "cut-up", espécie de colagem de percepções compondo "narrativas do acaso".
Sua obra toma novo curso com a trilogia "Place of Dead Roads" (1977), "Cities of the Red Night" (1981) e "The Western Lands" (1987), mistura de histórias de detetive e faroeste intergaláctico, em que profetiza fatos como a Aids e clonagem, e aprimora sua idéia de Estado tecnopolicial em que se tornou o mundo globalizado.



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