São Paulo, segunda, 4 de agosto de 1997.



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Burroughs vai ao encontro de Kerouac e Ginsberg

France Press
O escritor norte-americano William Burroughs, em foto de 1984


O poeta beatnik Allen Ginsberg (esq.) com o companheiro Burroughs EDUARDO SIMANTOB
do Publifolha


O escritor William Seward Burroughs, um dos maiores expoentes da literatura americana do pós-guerra, morreu anteontem em Lawrence (Kansas, EUA).
O escritor, que tinha 83 anos, havia sido internado na sexta, após sofrer um ataque cardíaco.
O editor da Grove Press (que prepara uma edição de textos selecionados de Burroughs para 98), Ira Silverberg, disse que a morte do escritor foi súbita.
Adepto das drogas, Burroughs parou de fumar em 1991, após sofrer uma cirurgia no coração.
O escritor nasceu em St. Louis (Missouri) em 5 de fevereiro de 1914 e teve uma vida itinerante: morou em Nova York, Londres, Paris, Cidade do México e Tânger (Marrocos).
Mas desde 81, ano em que morreu seu filho, William, o escritor vivia em companhia de seus três gatos em Lawrence, onde se dedicava à fotografia, à pintura e à sua coleção de armas de fogo.
Em 1951, o escritor matou acidentalmente sua mulher, Joan, brincando de Guilherme Tell com uma pistola. Burroughs diz que este incidente o levou a escrever.
Nos últimos anos, flertou também com a música pop, participando de trabalhos de Laurie Anderson, R.E.M., Disposable Heroes of Hipocrisy, entre outros.
Burroughs fez também uma participação no vídeo do grupo U2 "Last Night on Earth", filmado em maio deste ano.
A fala lenta, cadavérica, de William S. Burroughs parece vir do outro lado do universo. De lá, o escritor relata o cotidiano do homem moderno visto de sua própria sombra, com o ceticismo de quem já viu tanto que aberração alguma o surpreende mais.
Ele já havia profetizado boa parte dos males de fim de milênio ainda nos anos 50, e o quadro que pinta leva adiante os paradigmas esboçados por Aldous Huxley em "Admirável Mundo Novo" e George Orwell em seu "1984".
Herdeiro das experimentações vanguardistas do início do século e, particularmente, da implosão linguística operada pelo irlandês James Joyce, Burroughs explorou "ad infinitum" os estados alterados da consciência.
E, quando esse universo finalmente se converte num mundo onde o virtual aprisiona o ser humano moderno em antenas, videogames, simuladores, drogas lícitas e ilícitas, o escritor nos chama a atenção sobre o lado negro de tanto progresso tecnológico: a influência cada vez maior de aparatos policiais ultra-sofisticados.



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