São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2000 |
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CINEMA Cineasta lança "Brother", em Veneza, onde ganhou o Leão de Ouro em 97 com "Hana-Bi - Fogos de Artifício" Nos EUA, Takeshi Kitano volta à violência AMIR LABAKI ENVIADO ESPECIAL A VENEZA Três anos depois de revelar-se ao mundo com o Leão de Ouro para "Hana-Bi - Fogos de Artifício", o cineasta japonês Takeshi Kitano voltou no fim-de-semana a Veneza para o lançamento mundial de seu novo filme, "Brother" (Irmão), desta vez fora de competição. Sua primeira produção rodada nos EUA foi aplaudida duas vezes em cena aberta na sessão de imprensa. O pêndulo de Kitano retorna à violência. Depois da pausa infantil de "O Verão de Kikujiro" (1999), é guerra outra vez. "Queria fazer algo forte e violento", reconheceu o cineasta na entrevista coletiva de sábado. "Depois desse filme, quero rodar uma grande história de amor." "Brother" talvez seja o filme de Kitano com mais tiros, sangue e mortes. É por certo o mais cético. Mais uma vez o protagonista é ele mesmo, creditando-se como Beat Takeshi. Seu personagem, Yamamoto, abre o próprio caminho pelo mundo com golpes e balas. Problemas com seu clã na máfia japonesa, a "yakuza", forçam-no a trocar Tóquio por Los Angeles. Vai ao encontro de um meio-irmão, Ken (Claude Maki). Yamamoto alia-se aos pequenos traficantes que trabalham com Ken para forjar sua versão americana da Yakuza. Os métodos decididos e inclementes acompanham-no ao cruzar o oceano Pacífico. Uma gangue de "chicanos" atrapalha-lhe a ascensão e é alegremente massacrada. O mesmo destino seria reservado ao próximo adversário, a máfia italiana, caso não tivesse maior tradição nos negócios do crime. Não há espaço para nobreza no mundo de "Brother". Um isolado gesto de generosidade força Yamamoto à excepcionalidade de uma retribuição. A camareira de seu hotel devolve-lhe o excesso da gorjeta. É a mãe de Denny (Omar Epps), o braço direito de Ken. Involuntariamente, assina com isso o seguro de vida do filho. A truculência, a amoralidade e a misoginia do universo japonês de Kitano repetem-se potencializadas em sua América multicultural. Em sua despedida do filme, Yamamoto/Kitano deixa uma dessas tradicionais lanchonetes de estrada por uma porta que remete inevitavelmente à atravessada por John Wayne ao fim de "Rastros de Ódio" (1958). Aquilo que para Wayne era um otimista movimento rumo ao desconhecimento é para Kitano mais um passo de desesperança. Seu lugar não é ali. O jornalista Amir Labaki está em Veneza a convite da organização do festival. Texto Anterior: Peça é lida hoje à noite na Folha Próximo Texto: Festival na rede abre inscrições Índice |
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