São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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ARTES VISUAIS

Em São Paulo para um colóquio e lançamento de livro, Philippe Dubois fala sobre a estética da imagem

"O vídeo pensa o que o cinema cria"

EDER CHIODETTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Tão estimulado quanto desorientado ao caminhar pelos cenários dessa "cidade-tela" chamada São Paulo, o francês Philippe Dubois, um dos principais teóricos da atualidade em estética da imagem, passou nesta semana pela cidade para dois eventos: o colóquio "Imagens da Metrópole na França e no Brasil Representações Modernas e Contemporâneas", na USP, e o lançamento de sua coletânea de ensaios "Cinema, Vídeo, Godard" (Cosac & Naify).
No colóquio, Dubois, que é professor da Universidade Paris 3, proferiu a palestra "A cidade-tela ou o devir imagem do espaço urbano no cinema". Antes, em entrevista à Folha, explicou um pouco esse conceito: "No cinema, as cidades são sempre dadas como imagem, o lugar no qual antes de sermos habitantes somos espectadores. Se num primeiro momento o cinema fez da cidade uma fachada, hoje detectamos que a arquitetura contemporânea incorporou a idéia de cidade-tela, tanto na forma quanto na iluminação. Andamos pelas cidades como se estivéssemos num cenário de cinema. A vida se transformou num espaço de exposição de imagens", diz.
Autor da obra "O Ato Fotográfico" (1990), considerado um dos textos seminais na área da fotografia, Dubois desde então passou a pesquisar o vídeo, sempre relacionando-o com a linguagem cinematográfica. "Cinema, Vídeo, Godard" é uma coletânea de nove ensaios publicados na imprensa mundo afora e reunidos pela primeira vez, apenas em português, por sugestão de amigos brasileiros do autor.
Nas três partes que subdividem o volume, Dubois delineia um corpo estético específico do vídeo, com um apanhado histórico da videoarte, comenta as relações do cinema com o vídeo e como grandes cineastas se serviram dessa linguagem nas décadas de 70 e 80; por fim, faz uma análise de como o cineasta Jean-Luc Godard incorporou o vídeo na sua produção cinematográfica.
"O videoarte é uma forma de expressão que se encontra na intersecção do cinema com as artes plásticas, a televisão e o rádio. Penso que o vídeo não é um objeto acabado, é um processo, e como tal ele permanece em constante movimento de mutação, um campo aberto para a reflexão constante da imagem e do som. Por isso, ao observar a obra de Godard, percebo que o vídeo pensa o que o cinema cria", diz.
O livro será traduzido para o francês? "Sim, mas não assim exatamente. Haverá mudanças. Também estou em movimento... Gosto de me ver à imagem do vídeo, como um ser de passagem, dotado de existência breve e identidade incerta", conclui.


CINEMA, VÍDEO, GODARD. Autor: Philippe Dubois. Editora: Cosac & Naify. Quanto: R$ 52,50 (329 págs.)


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