São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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CRÍTICA/"A BIGGER BANG"

Banda encapsula tempo fértil e se renova de suas próprias entranhas

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em "A Bigger Bang", os Rolling Stones provam que o rock não é mero subgênero ou algo a ser diluído em prol da evolução.
Quem inventa um estilo para si não tem necessidade de ficar se reinventando. Ou você realmente imagina Keith Richards, com uma garrafa de vodca na mão, se martirizando, ligando para Jagger e dizendo: "Cara, a gente precisa se atualizar no novo disco, evoluir, testar novas sonoridades..."?
Enquanto o dito "novo rock" fica sanfonando influências entre os anos 70 e 80 e não dura duas semanas de hype, Richards, um homem dos anos 60, com quase 62 anos, apenas esbarra na guitarra, e faz-se luz. É assim há pelo menos quatro gerações, que deliram a cada nova turnê.
"A Bigger Bang" já chega assegurando um título: é o melhor nome de álbum do ano. Trata-se, sem dúvida, de um disco redundante e auto-referente, mas abarca em si um espírito de um tempo que precisa ser experimentado. Encapsulando um dos períodos mais férteis da música pop, os Stones se renovam das próprias entranhas. E podem deixar qualquer pessoa com 22 anos.
Para quem vai curtir os melhores anos de sua vida por agora, reserva hits para crescer junto. O primeiro conselho é esquecer essa besteira chamada "Streets of Love", escalada para as rádios.
Tanto esse single como a polêmica "Sweet Neo Con" são faixas desprezíveis, preguiçosas, num CD que peca pelo excesso: são 16 faixas. Fossem 12, seria perfeito. E melhor: estão todas no site oficial www.rollingstones.com.
Ponha logo a faixa de abertura, "Rough Justice" -com Watts soltando seu firme e elegante pancadão- e imagine o que a praia de Copacabana verá em 18 de fevereiro, verão a pino, no único show da turnê pelo Brasil. Espero que as autoridades saibam o que estão fazendo, porque a tendência é botar para quebrar.
Não se convenceu? Acha que a distorção na voz de Mick Jagger só engana os trouxas? Antes de se exilar em Main Street, tente as furiosas "Oh No, Not You Again" ou "It Won't Be Long". Sir Mick ainda é um garoto selvagem com bons refrãos no rústico 4x4.
A razão de ser dos Stones, o blues roubado de gênios como Howlin" Wolf, dá ao disco um de seus momentos mais grandiosos: "Back of My Hand", com uma guitarra slide ferocíssima, negróide, perfuro-cortante.
Infelizmente, destoam os tradicionais solos vocais de Keith Richards, uma das peculiaridades mais legais dos Stones.
De todo modo, é tradicional dos Stones que apenas três ou quatro músicas do novo disco consigam lugar entre as "Satisfactions" da vida. Oremos então por Copacabana, que o "Bigger Bang" será lá.


A Bigger Bang
   
Artista: Rolling Stones
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 28, em média. Lançamento
no Brasil na próxima sexta-feira


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