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CRÍTICA/"A BIGGER BANG"
Banda encapsula tempo fértil e se renova de suas próprias entranhas
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em "A Bigger Bang", os Rolling
Stones provam que o rock
não é mero subgênero ou algo a
ser diluído em prol da evolução.
Quem inventa um estilo para si
não tem necessidade de ficar se
reinventando. Ou você realmente
imagina Keith Richards, com
uma garrafa de vodca na mão, se
martirizando, ligando para Jagger
e dizendo: "Cara, a gente precisa
se atualizar no novo disco, evoluir, testar novas sonoridades..."?
Enquanto o dito "novo rock" fica sanfonando influências entre
os anos 70 e 80 e não dura duas semanas de hype, Richards, um homem dos anos 60, com quase 62
anos, apenas esbarra na guitarra,
e faz-se luz. É assim há pelo menos quatro gerações, que deliram
a cada nova turnê.
"A Bigger Bang" já chega assegurando um título: é o melhor nome de álbum do ano. Trata-se,
sem dúvida, de um disco redundante e auto-referente, mas abarca em si um espírito de um tempo
que precisa ser experimentado.
Encapsulando um dos períodos
mais férteis da música pop, os
Stones se renovam das próprias
entranhas. E podem deixar qualquer pessoa com 22 anos.
Para quem vai curtir os melhores anos de sua vida por agora, reserva hits para crescer junto. O
primeiro conselho é esquecer essa
besteira chamada "Streets of Love", escalada para as rádios.
Tanto esse single como a polêmica "Sweet Neo Con" são faixas
desprezíveis, preguiçosas, num
CD que peca pelo excesso: são 16
faixas. Fossem 12, seria perfeito. E
melhor: estão todas no site oficial
www.rollingstones.com.
Ponha logo a faixa de abertura,
"Rough Justice" -com Watts
soltando seu firme e elegante pancadão- e imagine o que a praia
de Copacabana verá em 18 de fevereiro, verão a pino, no único
show da turnê pelo Brasil. Espero
que as autoridades saibam o que
estão fazendo, porque a tendência
é botar para quebrar.
Não se convenceu? Acha que a
distorção na voz de Mick Jagger
só engana os trouxas? Antes de se
exilar em Main Street, tente as furiosas "Oh No, Not You Again"
ou "It Won't Be Long". Sir Mick
ainda é um garoto selvagem com
bons refrãos no rústico 4x4.
A razão de ser dos Stones, o
blues roubado de gênios como
Howlin" Wolf, dá ao disco um de
seus momentos mais grandiosos:
"Back of My Hand", com uma
guitarra slide ferocíssima, negróide, perfuro-cortante.
Infelizmente, destoam os tradicionais solos vocais de Keith Richards, uma das peculiaridades
mais legais dos Stones.
De todo modo, é tradicional dos
Stones que apenas três ou quatro
músicas do novo disco consigam
lugar entre as "Satisfactions" da
vida. Oremos então por Copacabana, que o "Bigger Bang" será lá.
A Bigger Bang
Artista: Rolling Stones
Gravadora: EMI
Quanto: R$ 28, em média. Lançamento
no Brasil na próxima sexta-feira
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