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Crítica/Blue Man Group
Trupe ironiza a banalidade consumista em show esperto
Blue Man Group se apresenta em SP até o próximo dia 13 no Credicard Hall
HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Talvez a grande homenageada do último Festival de Cinema de Gramado, a megastar Xuxa, esteja
certa. Duendes existem, mas,
querida loira, não são verdes.
São azuis. Pelo menos, sempre foi assim no mundo dos
Smurfs. E, agora, com o show
do Blue Man Group, devo dizer:
eu também acredito em homenzinhos azuis.
Basta pegar o telefone e discar um 0800 qualquer e vão te
vender um excelente pacote de
como se tornar um megastar. E
mais! Um megastar do rock!
Meu conselho: compre. Ou vá
assistir à demonstração desse
produto da cultura de massas.
O espetáculo do Blue Man
Group é pura gozação sobre os
shows massificantes, uma ironia pra ver e ouvir. Tiram sarro
do comportamento de roqueiros, ao mesmo tempo em que
tocam excelente rock'n" roll.
Ridicularizam as elucubrações
das artes plásticas e primam
em soluções visuais. Superpalhaços não deixam de se autoironizar, de brincar com o público e revelar os truques medíocres que fizeram a fama de muita gente.
Na pré-estreia, minutos antes do show, dava pra ver o desespero dos fotógrafos atrás de
alguém mais ou menos chique e
famoso, saído de algum reality
show fake.
Durante o espetáculo, me bateu a conclusão de quanto essa
badalação é provinciana, pois,
no palco, o Blue Man zomba, o
tempo todo, do mundo das celebridades -se é que elas merecem um mundo próprio.
As divertidas legendas -e
são muitas- foram traduzidas
com um ritmo integrado ao espetáculo, incluindo os textos
dentro das animações, sem
trair o humor e a poesia das letras. Detonam sarcasticamente
o pieguismo, mas vão fundo em
"I Feel Love" (sucesso de Donna Summer), dando outro significado à canção pop, tratando
a solidão urbana como um biscoito fino, pronto à degustação
da massa.
A comunicação com o público é constante e fluente. Pena
que o Credicard Hall tenha tanto eco que a música tenha de
ser equalizada em volume baixo, pouco envolvente.
A plateia, toda sentada, também não ajuda muito a satirizar
o comportamento do público
de megashow.
Além do talento cômico e
musical, o Blue Man usa a tecnologia para valorizar a atuação
cênica. E, muito espertos, jogam para a torcida, apelando
para a nossa paixão pelo futebol
e até em citar Roberto Carlos.
Aposto que é porque o Rei gosta
de azul. Será que o Blue Man
também tem TOC?
Bozo
Fiquei fã do palhacinho do
banjo, Floppie, a quem o Blue
Man faz uma justa homenagem, resgatando o gesto e a atitude heavy metal. Aliás, Floppie vem da mesma horda de Ronald McDonald e Bozo, mas
creio que não se drogou tanto
como os colegas. E se você quer
saber o porquê, vá ver o show.
Sim, porque gripe suína à
parte, muita gente pode não ir,
achando que já viu tudo. Não se
deixe confundir com a forte
campanha publicitária da TIM,
que tem o Blue Man como garotos-propaganda, e ache que eles
estão limitados a essa fronteira.
Por mais que nesses 19 anos de
atuação, saídos do circuito off-Broadway para o circuito internacional e com várias versões
espalhadas pelo mundo, o Blue
Man Group seja um meganegócio, em cena os homenzinhos
azuis não fazem concessões e
tripudiam sobre a banalidade
consumista.
HUGO POSSOLO, 47, é palhaço, dramaturgo e
diretor do grupo Parlapatões e do Circo Roda
Brasil
BLUE MAN GROUP
Quando: de ter. a qui., às 21h30, sex.,
às 22h, sáb., às 17h e às 22h, e dom., às
16h e às 20h; até 13/9
Onde: Credicard Hall (av. das Nações
Unidas, 17.955, tel. 0/xx/11/2846-6010
Quanto: R$ 60 a R$ 280
Avaliação: bom
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