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Torero e Pimenta recriam Barrabás em novo romance
Paródia bíblica narra a vida do suposto criminoso salvo da cruz no lugar de Jesus
MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO
O primeiro prêmio literário
recebido pela dupla José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, ainda no final
da década de 80, veio de uma
paródia bíblica.
"Assim Caminha a Glória
de Deus", peça nunca encenada, narra a disputa entre
Jesus e seu irmão, Cristóvão,
pela conquista dos fiéis.
Desde então, retornar ao
universo bíblico num trabalho de fôlego maior nunca
saiu da cabeça da dupla.
Mais de 20 anos depois, o
projeto tomou forma com "O
Evangelho de Barrabás", romance recém-lançado pela
editora Objetiva.
Personagem do qual quase nada se sabe, Barrabás
participou de um momento
fundamental do catolicismo.
Condenado à morte por
seus crimes, ele participou
ao lado de Jesus da "disputa"
proposta por Poncius Pilatos, espécie de governador
da Judeia: o povo escolheria
qual dos dois seria libertado
e qual iria para a cruz.
O resultado, como se sabe,
foi favorável a Barrabás, que
também conquistou a preferência de Torero e Pimenta.
Antes dele, a dupla pensou em Judas, Maria Madalena e no próprio Jesus como
protagonistas de uma versão
cômica do Evangelho.
"Mas Barrabás é um personagem fascinante. É um outro, um desconhecido que
venceu Jesus", diz Torero.
Um "outro" que assume o
papel principal no livro. Com
Jesus, o Barrabás de Torero e
Pimenta tem muitas coincidências: seus pais chamam
José e Maria, nasceu de um
ventre virgem, é autor de milagres (ou pelo menos assim
pensam seus seguidores).
Pelo caminho de Barrabás
também passou Maria Madalena, que fica dividida entre
segui-lo ou a Jesus.
COADJUVANTES
Narrar um contexto histórico real a partir de um personagem secundário não é novidade para os autores.
Em "Terra Papagalli"
(1997), primeiro livro publicado da dupla, o descobrimento do Brasil era revisto
pelos olhos do degradado
Cosme Fernandes.
Antes Torero já havia escrito (sozinho, mas citando
Pimenta nos agradecimentos) "O Chalaça" (1995), recriação da vida de Francisco
Gomes da Silva, secretário
particular de dom Pedro 1º.
Em todos eles, é tênue a linha que separa a ficção da referência histórica.
Em certo capítulo do novo
livro, Barrabás cruza com
porcos "suicidas", possuídos
pelo demônio.
A improvável passagem,
no entanto, está realmente
nos evangelhos.
"Partindo do pressuposto
de que tudo o que está na Bíblia é verdadeiro, nosso livro
é 80% fiel à realidade. Agora,
se tudo aquilo é ficção, nada
é verdade no que escrevemos", ri Pimenta.
De famílias religiosas, eles
assumem-se como "ateus
não praticantes". O que, evidentemente, não lhes tira o
prazer de ler a Bíblia. Nem
que seja para fazer graça.
"A Bíblia é a narrativa fundadora do Ocidente. Todos
os grandes autores a leram e
tiraram de lá personagens e
situações. É um mundo gigantesco de ideias, é muito
inspirador", diz Pimenta.
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