São Paulo, sábado, 4 de outubro de 1997.




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Para livro, "Um dia a gente chega"

especial para a Folha

"A Curiosa Iluminação do Professor Caritat" é o "Mundo de Sofia" da teoria política -assim escreveu o colunista Marcelo Coelho, na contracapa do livro.
Steven Lukes deve ter sentido, em suas andanças pelo meio acadêmico, a aflição atual diante da falta de um modelo de sociedade ideal; a velha e boa utopia.
O autor escreveu de forma atraente e satírica sobre aquilo que muitos jovens, provavelmente seus alunos, têm parco interesse: a política que entope seus narizes.
No livro, Caritat, estudioso do Iluminismo e desinteressado em política, é preso em Militária.
O movimento guerrilheiro Mão Visível racha: Mão Visível da Direita e Mão Visível da Esquerda. "O que podia ser dado como certo era que nenhuma das Mãos sabia das atividades da outra", escreveu. Familiar, não?
Caritat, com ajuda de uma das Mãos, foge e vai dar em outro país, Utilitária, onde cada cidadão tem uma máquina de calcular -o bem-estar de Utilitária se deve aos números, às estatísticas e a uma eficiente repressão aos imigrantes que congestionam suas fronteiras.
Como Candide de Voltaire, que roda o mundo em busca do paraíso, Caritat é enviado a Comunitária, sociedade dividida em etnias.
Em Libertária, um quarto país, a onda de privatizações cria hordas de miseráveis. O velho sábio, então, vira um mendigo. Até conseguir emprego como eletricista -pensaram que pesquisar o Iluminismo fosse iluminar.
Lukes cria um retrato entre a barbárie e a loucura. Seus países estão por aí, por aqui. E, como carneiros obedientes, cada povo se molda na histeria provocada pelo sistema vigente.
Mas Lukes tem o bom senso de não levar o leitor aos antidepressivos. Conta, no final, a fábula do velho camponês que, à beira da morte, diz aos filhos que tem um tesouro enterrado no jardim.
Os filhos arrasam com o jardim e não acham nada. Em termos. O solo revirado melhorou a qualidade do jardim. A mensagem? Vamos tentando, que um dia a gente chega. (MRP)



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