São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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GRAVADORAS

Trama advoga a quebra de paradigmas antigos; Abril aplica mecanismos aprendidos da grande indústria
Nacionais crescem com táticas diferentes

DA REPORTAGEM LOCAL

Como tentativa de expor diferenças e semelhanças entre Abril Music e Trama, a Folha submeteu seus dirigentes a um mesmo roteiro básico de perguntas, sem que um tivesse conhecimento das respostas do outro. Leia abaixo, sequenciadas, as respostas de Marcos Maynard (Abril) e João Marcello Bôscoli (Trama).
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Folha - Que projeções podem ser feitas para o futuro da gravadora?
Abril -
Trouxemos Erasmo Carlos, que estava sem gravadora. Os Titãs vieram porque quiseram vir, não quero roubar artista de ninguém. Vou lançar Sandra Porto, que faz country brasileiro, e Deborah Blando em italiano.

Trama - O grande desafio é continuar como está, manter os processos que já estão acontecendo. Imaginando uma curva de três anos, agora é que os produtos estão começando a crescer, agora é que a festa vai começar. Mas não sei se queremos fazer grandes nomes na Trama. Artista mainstream muitas vezes vira administração de problemas. Compramos um terreno de 30 mil m2, que vai abrigar a sede da gravadora, estúdio, um cineminha, um anfiteatro, espaço para ensaios.

Folha - Quais são as prioridades da gravadora neste momento?
Abril -
Minha prioridade máxima é estourar o grupo de forró Fala Mansa nas rádios. Vamos lançar Maurício Manieri e Ira! ao vivo, com versões em DVD. A tendência desse meio é de crescimento, temos de pensar nisso.

Trama - A prioridade é, sempre, o conteúdo. Sabemos que a próxima mídia é o DVD e que, num futuro próximo, 70% da música será conjugada com imagem. Então somos loucos de desenvolver o setor de imagem com o de música.

Folha - A entrada da Abril e da Trama trouxe modificações concretas ao mercado nacional?
Abril -
A Abril, pelo que o próprio mercado está falando, tem contribuído bastante para sacudir o panorama. Quando crescemos, quem está nos primeiros lugares não gosta, luta para manter o posto, e então o mercado sai ganhando. Abril e Trama estão causando uma marolinha, é difícil fazer mais que isso. Mas de marola em marola pode-se dar um pouco de exemplo, de atitude. Se o mercado copiar a Trama, a qualidade vai melhorar. Outra coisa é que São Paulo é muito despreparada para o mundo fonográfico. A história do disco está toda no Rio. O fato de Abril e Trama estarem aqui também mexe no panorama.

Trama - É um processo em desenvolvimento, que nunca acaba. Ninguém aqui é, todo mundo está. Primeiro existia um cantor e ao redor dele se formou uma indústria. Não foi o contrário. Invertendo o sinal, como a indústria faz, só se cai em placebos. A grande contribuição que a Trama vem trazendo é de gerar um novo modelo, cuidar do artista, da capa do disco. A Abril mudou o panorama do ponto de vista de negócios. Provou que qualquer pessoa competente que ousar pode entrar nesse mercado. Eram cinco grandes, agora são seis.

Folha - A gravadora pretende se igualar em algo às multinacionais?
Abril -
A gente nunca vai conseguir se igualar a elas, porque não somos uma multinacional. Mas vamos crescer muito. Minha meta é chegar a 14% de participação no mercado em dois anos. É claro que repito o modelo das multinacionais, porque, se você não jogar o jogo que elas jogam, você está fora do mercado. A roda já foi inventada, não pode ser de novo.

Trama - Não. Não podemos querer nos basear em algo que está morrendo. Não vou me vestir para uma festa que está terminando. Não queremos ser comparados em nada, nem em números. O hit é quase sempre o canto de cisne do artista. Dez caras atravessam os anos, mas quase nenhum sobrevive a virar sombra de si. Havia toda uma bajulação em torno de Elis Regina, mas o caixão de qualquer um tem seis alças, e preenchê-las não é fácil.

Folha - Existe jabá (comércio clandestino entre gravadoras e rádios) no Brasil?
Abril -
Não existe mais jabá. O que existe é o mundo pop, comercial. Gasta-se em promoção, não é jabá o nome.

Trama - O jabá da forma como conhecemos não existe mais. Hoje há nota fiscal, compra de espaço publicitário. Não adianta, Simoninha não toca em rádios com prática comercial mais dura. Mas fazemos promoção, sorteio.

Folha - Que artistas a gravadora gostaria de ter e não tem?
Abril -
Meu irmão Roberto Carlos e minha irmãzinha Simone.

Trama - Djavan, João Bosco, Paulinho da Viola, Lenine, Nação Zumbi, O Rappa, Lucas Santtana. Baden Powell, que tivemos a sorte de ter no final da vida. Negociamos com Elza Soares, mas não foi adiante. Talvez quisesse Roberto Carlos, mas não a marca, e sim o cara que canta e compõe. Queria encontrar um artista que preenchesse a lacuna deixada por ele.



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