São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Living Theatre quase fez peça com Oficina

DA REPORTAGEM LOCAL

O Living Theatre surgiu em 1947 a partir do encontro, em Nova York, da atriz alemã Judith Malina com o pintor Julian Beck. A idéia inicial era propor uma "alternativa criativa" ao teatro comercial.
A peleja do grupo com a polícia começou cedo, como relata a professora Heloisa Starling em capítulo introdutório ao "Diário de Judith Malina - O Living Theatre em Minas Gerais" (Arquivo do Dops, 272 págs., não comercializado): em 48, uma sala usada pelo Living foi fechada sob a acusação de servir de fachada para um prostíbulo.
Nas décadas de 50 e 60, três sedes da companhia foram fechadas sob argumentos que iam de superlotação a violação de regulamentos contra incêndio.
Foi também nesse período que a trupe guinou rumo a um teatro talhado, nas palavras de Beck (compiladas por Heloisa), para "despertar a platéia de seu cochilo, provocá-la [...], chocá-la, se necessário" -além de preocupado em "envolver os atores com o que estivesse acontecendo na platéia".
"The Brig" (prisão da Marinha americana), raio-x da violência das Forças Armadas, "The Connection" (a conexão), flagrante de um viciado em heroína à espera de uma dose, e "Paradise Now" (paraíso agora), celebração do erotismo, concretizaram a implosão dos limites da encenação tradicional -arte e vida estavam amalgamadas.
Em 68, a apresentação de "Paradise" no Festival de Teatro de Avignon, na França, foi proibida. Dois anos depois, um convite de José Celso Martinez Corrêa trouxe o grupo ao Brasil para trabalhar com o Oficina. A parceria se desfez em seis meses, por "divergências estéticas e políticas e conflitos pessoais", como diz Starling.
O Living montou acampamento então em Ouro Preto (MG) e começou a desenvolver o ciclo "O Legado de Caim". Em julho de 71, os integrantes foram presos duas vezes: uma por suposto uso e tráfico de drogas, outra por suspeita de ligação com o "movimento subversivo nacional". O decreto de expulsão do Living do Brasil foi assinado dias depois. (LUCAS NEVES)


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