São Paulo, Quinta-feira, 04 de Novembro de 1999
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PERSONALIDADE
Produtor negociava com a Natasha lançamento de seu disco solo, que só saiu na Europa
Suba morreu sem assinar contrato

Jorge Araújo - 21.jan.99/Folha Imagem
O produtor iugoslavo Mitar Subotic, que morreu na terça em Sâo Paulo


DANIEL CASTRO
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

O produtor musical Mitar Subotic, 38, morto anteontem em São Paulo, iria assinar contrato nesta semana para lançar no Brasil seu primeiro disco solo, "São Paulo Confessions", lançado no início do ano na Europa.
"Estava tudo acertado, mas o contrato não foi assinado, por um atraso da própria gravadora. As bases estavam todas firmadas, estaríamos mandando o contrato para ele nesta semana. Agora não sabemos o que fazer", afirmou Conceição Lopes, uma das sócias da Natasha Records.
Taciana Barros, ex-mulher de Suba e ainda legalmente casada com ele, disse que vai entrar em contato com a mãe do produtor, que mora na Iugoslávia, e que irá autorizar o lançamento do disco no Brasil, mas que ainda não definiu se irá assinar com a Natasha.
A cantora e compositora afirmou que o CD de Suba está recebendo críticas elogiosas da imprensa especializada européia. Segundo ela, a revista "Rolling Stone" alemã irá dar a seus leitores, como brinde, 50 mil cópias de um CD com a faixa "Você Gosta".
Segundo Conceição Lopes, que é também empresária de Daniela Mercury, a cantora e Suba estiveram juntos durante cinco dias em Salvador na semana passada, gravando bases do que pode se tornar o próximo disco da artista.
"Ele foi chamado para dar uma cara moderna às faixas pop do novo trabalho de Daniela. Ele não seria o produtor do CD, mas sim um arranjador", disse. O material gravado por Suba e Daniela será avaliado pela gravadora BMG e pode ou não ser aproveitado.
Suba estava produzindo também um álbum de Bebel Gilberto, cantora brasileira radicada em Londres, que deixou inconcluso. Ele viajaria hoje para a Bélgica, para promover seu CD e produzir duas faixas do disco de Bebel, que sairia pelo selo belga Crammed, o mesmo que editou o de Suba.
Iugoslavo estabelecido em São Paulo desde 1990, ele morreu por volta das 6h30 de terça, provavelmente por asfixia -o atestado de óbito não determinou a causa-, em decorrência de um incêndio em seu apartamento.
Músico de formação erudita, passou a trabalhar em produção no Brasil, concebendo discos com elementos eletrônicos de Marina Lima, Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Mestre Ambrósio, Dinho Ouro-Preto, Taciana Barros e Edson Cordeiro, entre outros.
Seu velório, na noite de terça-feira, foi acompanhado por amigos/artistas como André Abujamra, Dinho Ouro-Preto, Edgard Scandurra, Edson Cordeiro, Kiko Zambianchi, Lala Deheinzelin, Marisa Orth e Taciana Barros.
Produtores musicais avaliaram o impacto de sua morte para o pop nacional. "Foi um gringo bacana que veio ensinar à minha geração de produtores de música que é preciso ter coragem. Sua perda fere nossa geração tanto quanto a morte de Chico Science feriu sua geração de artistas", afirmou Dudu Marote.
Para Carlos Eduardo Miranda, produtor da gravadora Trama, "ele veio do outro lado do mundo e entendeu tudo desta bagunça. Conseguiu acrescentar um monte a artistas muito diferentes. Ele não havia nem chegado perto de onde podia chegar, ia ser uma peça-chave na internacionalização da música brasileira".
Em uma cerimônia no Crematório de Vila Alpina (zona sudeste), cerca de 15 amigos se despediram de Suba ontem, às 11h30. Na cerimônia, tocaram trechos de um disco experimental, feito por Suba no início da década, "Dream Birds", com cantos de pássaros. Suas cinzas deverão ser enviadas para sua mãe, na Iugoslávia.


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