MARCELO STAROBINAS
da Redação

A tragédia da vida real nos Bálcãs em desintegração ganha contornos de comédia em "Beautiful People - Guerra dos Outros", em exibição hoje na Mostra Internacional de Cinema.
O filme insere a guerra da Bósnia no rol de catástrofes que vêm inspirando obras de humor negro de primeira linha.
A história se desenrola em Londres, em 1993 (auge da guerra), e não tem personagem principal.
Costura situações vividas por uma dezena de protagonistas, refugiados bósnios ou cidadãos britânicos que, por um ou outro motivo, têm seus caminhos entrelaçados.

Ódio
O diretor Jasmin Dizdar, ele próprio bósnio com residência no Reino Unido desde 1989, faz uma crítica inteligente ao ódio entre vizinhos na Iugoslávia que se despedaçava.
Ódio, por exemplo, de dois refugiados que abandonaram o mesmo vilarejo bósnio. Um de origem sérvia, o outro, croata. Eles se enfrentam em brigas hilariantes e perseguições no estilo gato e rato de desenho animado. O divertimento mascara a face cruel do conflito nacionalista, trazendo à tona apenas o lado humano comum aos dois.
Dizdar, que faz em "Beautiful People" sua estréia na direção de longas-metragens, obteve destaque no Festival de Cannes.
E ficou entre os dez filmes com melhor avaliação do público na Mostra deste ano.
No ano passado, o italiano Roberto Benigni e o romeno Radu Mihaileanu, diretores de, respectivamente, "A Vida é Bela" e "Trem da Vida", mostraram que é possível "rir" até mesmo do Holocausto, tabu dos tabus das temáticas de guerra.
"Beautiful People" junta-se a eles na lista de boas comédias sobre tragédias.

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