São Paulo, Quinta-feira, 04 de Novembro de 1999
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ARTE
Exposição tem obras nunca apresentadas ao público no Brasil, mas não será vista no país de Aleijadinho
"Brasil Barroco" é só para francês ver

CRISTINA GRILLO
LUIZ ANTONIO DEL TEDESCO
enviados especiais a Paris

A mais completa exposição sobre o barroco brasileiro não será vista no Brasil. "Brasil Barroco -Entre Céu e Terra", mostra que reúne 350 obras de artistas brasileiros, entre elas preciosidades de Aleijadinho, será desmontada no dia 6 de fevereiro. Até lá, só pode ser vista no Museu de Belas Artes da Cidade de Paris, o Petit Palais.
Problemas de datas, de patrocínio e de empréstimos de obras impedirão a visita ao Brasil.
"É uma grande emoção ver, aqui, obras que jamais pude ver lá", disse o ministro da Fazenda, Pedro Malan, que participou da festa de abertura da exposição, terça-feira em Paris.
Malan resumia o pensamento dos presentes à inauguração. A exposição, que mostra o melhor da arte brasileira nos séculos 16, 17 e 18, foi organizada pela Prefeitura de Paris, pela União Latina e pelo Ministério da Cultura do Brasil para comemorar os 500 anos do descobrimento e a chegada do ano 2000 na Europa.
"Brasil Barroco" foi montada com obras emprestadas por 49 instituições e colecionadores particulares brasileiros, muitas das quais não são expostas.
Para o ministro da Cultura, Francisco Weffort, que tambémesteve na inauguração, será difícil levar a exposição para o Brasil porque os museus que emprestaram as obras não podem ficar "desfalcados" por muito tempo.
A execução de "Brasil Barroco -Entre Céu e Terra" foi cercada de cuidados inéditos. Desde julho foi feita uma pesquisa, com sensores, para se estabelecer uma temperatura média e um grau de umidade adequados para a conservação das peças.
"As condições em que essas obras ficam no Brasil são muito diferentes das encontradas aqui. Foi preciso criar condições semelhantes", disse Maria Ignez Mantovani, coordenadora técnica da exposição.
Assim, os 13 salões do Petit Palais foram climatizados para ter uma temperatura média de 24C e umidade em torno de 75% -em vez de desumidificadores, utilizados em exposições de grande porte para garantir a preservação das obras, o Petit Palais recebeu umidificadores.
O arquiteto italiano Massimo Quendolo, 40, escolhido para organizar o espaço da mostra, não chegou a visitar as igrejas de onde saiu a maior parte das obras, mas, se servindo de uma luminosidade tênue e de linhas curvas, conseguiu de certa forma dar um clima plácido ao local.
"Não quero dar forma à forma. O que faço é uma espécie de minimalismo. Se o visitante disser que -do ponto de vista arquitetônico- não vê nada, é porque tudo está ali", disse.
"Brasil Barroco" ocupa mais do que 13 salas e 2.800 m2 do Petit Palais. As 518 páginas do catálogo editado para a mostra são um prolongamento da exposição.
Logo após um "avant-propos" no qual foram colocadas todas as formalidades de praxe (textos de apresentação e agradecimento de Fernando Henrique Cardoso, Jacques Chirac, Francisco Weffort e Jean Tiberi -prefeito de Paris-, entre outros), um capítulo de introdução traz textos dos três curadores da mostra.
Mas é daí para a frente que o catálogo se torna uma quase obra de arte. Começando pelas 105 páginas do capítulo "Estudos", no qual historiadores (Nicolau Sevcenko, Ana Maria de Moraes Belluzzo), arquitetos e poetas (Haroldo de Campos) traçam um "perfil" do barroco, resgatando sua origem e relacionando-o com o mundo contemporâneo.
Há comentários sobre todas as 350 obras expostas no Petit Palais, incluindo as oito monumentais fotos da entrada da mostra, reproduzindo fachadas de igrejas brasileiras.
O único "inconveniente" é o fato de os textos estarem apenas em francês, mas os organizadores já garantiram que em breve haverá uma versão em português.
Para ver a exposição na Internet: http://bresilbaroque.free.fr.


Os jornalistas Cristina Grillo e Luiz Antonio Del Tedesco viajam a convite da Michelin e do Banco Safra



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