São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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No Brasil, produção contemporânea ganha destaque

...e cá

Divulgação
"Moças no Jardim", de Cícero Dias, avaliada entre R$ 300 mil e R$ 400 mil


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

As casas de leilão brasileiras investem, agora, em um novo nicho: a arte contemporânea. Neste fim de ano, três eventos do gênero colocam em disputa obras da recente produção brasileira.
"Tem sido difícil a captação de obras de arte moderna brasileira, por isso é preciso apostar na segmentação", afirma Jones Bergamin, diretor da Bolsa de Arte. A casa promove, no dia 12, no Rio, um leilão de obras sobretudo de arte moderna.
A presença das casas de leilão num circuito até agora praticamente restrito às galerias de arte traz ao mercado não só uma nova dinâmica como também controvérsia. Nos leilões, "colecionadores com problemas financeiros estariam desovando obras abaixo de seu valor original", afirma um galerista paulistano, que não quis se identificar.
"O leilão funciona como um setor do mercado que dá liquidez, e determinadas obras, como um desenho de artistas modernos, não teriam a mesma aceitação numa galeria", afirma Oscar Cruz, que tem como sócio em sua galeria, no Rio, Jones Bergamin.
"O conflito existe e é muito presente nos EUA e na Europa. O leilão é positivo, pois o colecionismo só pode se manter se houver liquidez no mercado", afirma José Olympio Pereira, um dos mais importantes colecionadores de arte contemporânea brasileira.
Em São Paulo, dois leilões colocam mais lenha na fogueira. O primeiro deles ocorre amanhã, tendo o leiloeiro Aloísio Cravo à frente, com um enfoque significativo na arte contemporânea.
"Esse leilão apresenta um acervo composto, em sua maioria, de obras produzidas nos anos 80 por artistas até recentemente pouco observados, mas consagrados internacionalmente, o que já justifica uma disputa em leilão", afirma Cravo. O terceiro leilão da temporada é organizado numa parceria da Dan Galeria com a recém-criada Companhia das Artes e ocorre no próximo dia 11.
Essa nova incursão dos leiloeiros está causando polêmica entre as galerias paulistanas. "Acho que será ruim para a arte contemporânea, pois haverá uma inflação artificial nos preços, em um mercado que ainda está sendo definido", diz a galerista Luisa Strina.
"O mercado está muito mais dinâmico que há cinco anos; quem não tiver agilidade para se transformar dificilmente conseguirá sobreviver", afirma Cruz.
"Eu percebi que havia dois ótimos espaços, um no Rio e outro em São Paulo, utilizados por apenas alguns dias nas vésperas dos leilões. A parceria com o André Millan, em São Paulo, e com o Oscar Cruz, no Rio, é uma forma de aprimoramento", diz Bergamin.
"Não há dúvida de que essas parcerias sejam uma tentativa de favorecer a arte contemporânea numa estratégia de ampliação do próprio mercado. A arte contemporânea funciona como qualquer outro segmento -arte moderna, acadêmica ou naïf. Mais cedo ou mais tarde, o que entra no mercado está propenso a entrar em leilão", afirma Ricardo Trevisan, da galeria Casa Triângulo.

Equivalência com mercado
Um exemplo de convívio pacífico é a relação da galeria Brito Cimino com o leilão de Aloísio Cravo, que apresenta obras de três artistas da galeria paulistana: Regina Silveira, Nelson Leirner e Nazareth Pacheco. "Tenho um longo convívio com o Aloísio. Conversamos e os preços que ele apresenta no leilão são os mesmos do mercado", afirma Fabio Cimino, galerista da Brito Cimino.
Elogios à parte, a cautela é uma tônica: "Talvez seja precipitado que certos artistas estejam nos leilões. Isso cria conflitos de negociação e uma concorrência até desleal com seus representantes diretos, que estão em plena atuação", afirma ainda Trevisan.
Polêmicas à parte, a questão agora é ver como se desenvolvem os leilões dos próximos dias, que, na verdade, são a incorporação da máxima do livre mercado: quem dá mais? Ou, como apostam alguns galeristas, menos.


ALOÍSIO CRAVO & LEILÕES. Exposição: até hoje, das 12h às 22h, na r. Groenlândia, 1.897, SP, tel. 0/xx/11/ 3088-7142. Leilão: amanhã, às 21h, no Sheraton-Mofarrej Hotel (al. Santos, 1.437, SP).

COMPANHIA DAS ARTES. Exposição: abertura hoje, às 20h; até 10/11, das 10h às 19h, na r. Adolfo Tabacow, 144, SP, tel. 0/xx/11/3083-4600. Leilão: dia 11/11, às 21h, no hotel Unique (av. Brigadeiro Luís Antonio, 4.700, SP).

BOLSA DE ARTE. Exposição: em SP, até hoje, das 10h às 22h, na r. Rio Preto, 63, tel. 0/xx/11/3062-2333; no Rio, de 7/11 a 11/11, das 10h às 22h, na r. Prudente de Morais, 326, tel. 0/xx/21/2522-1544. Leilão: dia 12/11, às 21h, no Copacabana Palace (av. Atlântica, 1.702, Rio).


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