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LITERATURA
Escritor polonês radicado nos EUA, que estreou em 1991 aos 57 anos, lança o romance "Schmidt Libertado"
Louis Begley explora "a boa burguesia"
MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAl
O escritor polonês -radicado
nos Estados Unidos- Louis Begley tem uma inusual trajetória
no cenário literário norte-americano. Sua estréia foi em 1991, aos
57 anos, com "Infância de Mentira"; um relato autobiográfico sobre a Segunda Guerra. Depois,
sua atenção se voltou para -em
sua definição- "a boa burguesia". E ela está mais uma vez presente em "Schmidt Libertado",
lançado agora pela editora Companhia das Letras.
"Schmidt Libertado" é o segundo momento de um personagem
apresentado aos leitores no romance "Sobre Schmidt" -a versão para o cinema, com direção
de Alexander Payne, tem estréia
prevista para dezembro, nos Estados Unidos, com Jack Nicholson
no papel principal.
Aqui, Schmidt está de retorno;
um homem envelhecido, em crise
com sua filha e amante. Mas ainda
alguém acostumado com dinheiro, dramas e conforto, evidenciando "alguns aspectos do capitalismo do final do século", como
disse Begley em entrevista à Folha, por e-mail, de Nova York.
Folha - "Schmidt Libertado" é um
romance sobre o poder?
Louis Begley - Poder é um dos
meus temas. Mas há outros que
são igualmente importantes, como a relação entre um pai,
Schmidt, e sua filha adulta, ou a
persistência da força de Eros e a
maneira que ela age em nós. Mike
Mansur, o magnata que se torna
amigo de Schmidt, representa o
poder. Seu poder é dado pelos
muitos bilhões de dólares que ele
possui. É a autoconfiança que
nasce da fortuna. Schmidt é fascinado por Mansur.
Acredito que os super-ricos surgidos nos anos 80 e 90 são um fenômeno social. Eles são muito
mais ricos que os ricos de antes da
Primeira Guerra, e não existe nada semelhante a eles nessa categoria. Antes havia o prestígio da realeza, e ninguém poderia desafiá-la. Agora, não há ninguém -talvez apenas os astros de rock-
que receba igual deferência. Os
políticos certamente não, porque
são vistos pelos super-ricos como
um artigo para compra e venda.
Folha - Schmidt é então seu comentário sobre o capitalismo norte-americano?
Begley - "Schmidt Libertado"
certamente apresenta alguns aspectos do capitalismo dos Estados
Unidos no final do século 20. Mas,
na verdade, não sou um escritor
didático, com uma tese. Não procurei escrever um romance sobre
o capitalismo, no mesmo sentido
que, por exemplo, Ayn Rand fez
em "Fountainhead".
Folha - Mas parece haver em sua
obra um interesse especial pelos ricos.
Begley - A alta sociedade? Não, o
meio no qual tenho centrado
meus romances (com exceção de
"Infância de Mentira") é simplesmente a "boa burguesia"; é onde
eu vivo. Logo, já que sou um escritor de tradição realista, é natural
para mim o uso desse meio como
universo, e é dele que tiro meus
personagens.
Objetivamente, meus livros são
a respeito dos graves problemas
existenciais das pessoas: a definição de identidade, a maneira como são obrigados a reconhecer a
crueldade do mundo onde vivemos, a solidão da vida e a solidão
da morte. A "alta sociedade" aparece apenas como diversão. Eu
acredito que um romancista tem
que contar uma história, e ela deve prender a atenção do leitor e
diverti-lo.
Folha - Sua ficção procura manter
alguma forma de engajamento?
Begley - Minha ficção não é "engagé" (engajada) no sentido dado
pelo escritor Albert Camus. Mas
posso dizer ser ela séria. Certamente não é apenas arte pela arte.
Folha - Como o sr. vê o atual momento da literatura norte-americana? Os autores parecem estar sendo
influenciados pelas mudanças políticas e econômicas no país?
Begley - Essa é uma questão
muito difícil de ser respondida. A
escola minimalista parece estar
seguindo seu curso. Don Delillo é
percebido aqui como um grande
escritor, e há várias pessoas tentando imitá-lo. Jonathan Franzen,
que agora é o nome do momento,
me parece ser uma regressão.
O mais seguro valor literário em
atividade, na minha opinião, é
Philip Roth, especialmente "Pastoral Americana" e "A Mancha
Humana". Mas não acho possível
julgar como as transformações
políticas ou econômicas de meu
próprio tempo alteram a literatura. É necessário um certo recuo.
SCHMIDT LIBERTADO. De: Louis
Begley. Editora: Companhia das Letras.
Quanto: R$ 36 (280 págs.).
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