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DISCO LANÇAMENTOS
Romão brilha aos 72
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Só músicos especiais conseguem
tal proeza: o baterista carioca Dom
Um Romão mantém o ritmo de seu
ofício, aos 72 anos. "Rhythm Traveller", seu novo CD, tem lançamento simultâneo nos EUA, Europa, Japão e, numa incrível surpresa, até no Brasil (via selo Natasha).
Uma das lendas vivas da primeira geração da bossa nova, Romão,
que vive atualmente na Suíça, tem
um currículo de fazer inveja a
qualquer músico. Seus tambores e
pratos já soaram em mais de 200
discos, ao lado de Tom Jobim,
Frank Sinatra, Quincy Jones, Sérgio Mendes, Dorival Caymmi,
Tony Bennett e Weather Report,
entre dezenas de medalhões da
música brasileira e do jazz.
O primeiro disco gravado pelo
baterista no Brasil em 30 anos não
chega a ostentar a comemoração
dessa efeméride, mas um tom de
festa espalha-se pelas 11 faixas.
Ao lado do mestre das baquetas,
aparece um enorme elenco de convidados, que inclui a cantora Ithamara Koorax, os tecladistas Fábio
Fonseca e Délia Fischer, o guitarrista Nelson Ângelo, o saxofonista
Nivaldo Ornelas e o compositor,
violonista e artista plástico Pingarrilho, autor da capa do álbum.
Com produção de Arnaldo DeSouteiro e Toninho Barbosa,
"Rhythm Traveller" (título derivado da faixa "Mysterious Traveller",
antiga composição do jazzista
Wayne Shorter) reflete os diversos
cenários sonoros que já contaram
com os ritmos desse eclético baterista: do samba-jazz à "jungle" eletrônica, da bossa nova ao free jazz.
Surpresas se acumulam, como na
faixa "Capoeira Chant" (de Eumir
Deodato), que abre o disco com
Romão tocando uma inusitada
flauta, além de seus explosivos
tambores. Os vocais de Ithamara
Koorax e os teclados de Fábio Fonseca remetem às fusões elétricas
dos anos 70.
Ritmos de capoeira voltam a soar
em "Ginga Gingou", composição
do próprio Romão, que além de tocar berimbau surge nos vocais,
temperados pelas congas de Laudir de Oliveira e outros percussionistas convidados.
Surpreendente também é "Sem
Terra", composição criada no estúdio pelo baterista, como um desabafo frente à repressão ao MST.
É como se a canção de protesto e o
psicodelismo dos anos 60 pudessem, de repente, se entender.
Já "Samba de Rei", pura bossa
nova, destaca os vocais e o violão
do compositor Pingarrilho. Cria
um contraste radical com "Jungle
Carnival", faixa orientada pelos
"loopings" e ritmos eletrônicos da
atual dance music, que destaca o
DJ Marcelinho DaLua.
Depois de lançar "Rhythm Traveller" nos EUA, no Japão e na Europa, incluindo uma temporada
no Jazz Café (templo londrino do
acid jazz), Romão também vai se
apresentar no Brasil.
Em São Paulo, o baterista carioca
tem shows agendados no Sesc Santo Amaro (dia 29) e no Sesc Paulista (dia 30, pelo projeto "Instrumental", com entrada franca).
Duas chances raras de ouvir a lenda ao vivo.
²
Disco: Rhythm Traveler
Artista: Dom Um Romão
Lançamento: Jazz Station/Natasha
Quanto: R$ 18 (em média)
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