São Paulo, quarta, 4 de novembro de 1998

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DISCO LANÇAMENTOS
Romão brilha aos 72

CARLOS CALADO
especial para a Folha

Só músicos especiais conseguem tal proeza: o baterista carioca Dom Um Romão mantém o ritmo de seu ofício, aos 72 anos. "Rhythm Traveller", seu novo CD, tem lançamento simultâneo nos EUA, Europa, Japão e, numa incrível surpresa, até no Brasil (via selo Natasha).
Uma das lendas vivas da primeira geração da bossa nova, Romão, que vive atualmente na Suíça, tem um currículo de fazer inveja a qualquer músico. Seus tambores e pratos já soaram em mais de 200 discos, ao lado de Tom Jobim, Frank Sinatra, Quincy Jones, Sérgio Mendes, Dorival Caymmi, Tony Bennett e Weather Report, entre dezenas de medalhões da música brasileira e do jazz.
O primeiro disco gravado pelo baterista no Brasil em 30 anos não chega a ostentar a comemoração dessa efeméride, mas um tom de festa espalha-se pelas 11 faixas.
Ao lado do mestre das baquetas, aparece um enorme elenco de convidados, que inclui a cantora Ithamara Koorax, os tecladistas Fábio Fonseca e Délia Fischer, o guitarrista Nelson Ângelo, o saxofonista Nivaldo Ornelas e o compositor, violonista e artista plástico Pingarrilho, autor da capa do álbum.
Com produção de Arnaldo DeSouteiro e Toninho Barbosa, "Rhythm Traveller" (título derivado da faixa "Mysterious Traveller", antiga composição do jazzista Wayne Shorter) reflete os diversos cenários sonoros que já contaram com os ritmos desse eclético baterista: do samba-jazz à "jungle" eletrônica, da bossa nova ao free jazz.
Surpresas se acumulam, como na faixa "Capoeira Chant" (de Eumir Deodato), que abre o disco com Romão tocando uma inusitada flauta, além de seus explosivos tambores. Os vocais de Ithamara Koorax e os teclados de Fábio Fonseca remetem às fusões elétricas dos anos 70.
Ritmos de capoeira voltam a soar em "Ginga Gingou", composição do próprio Romão, que além de tocar berimbau surge nos vocais, temperados pelas congas de Laudir de Oliveira e outros percussionistas convidados.
Surpreendente também é "Sem Terra", composição criada no estúdio pelo baterista, como um desabafo frente à repressão ao MST. É como se a canção de protesto e o psicodelismo dos anos 60 pudessem, de repente, se entender.
Já "Samba de Rei", pura bossa nova, destaca os vocais e o violão do compositor Pingarrilho. Cria um contraste radical com "Jungle Carnival", faixa orientada pelos "loopings" e ritmos eletrônicos da atual dance music, que destaca o DJ Marcelinho DaLua.
Depois de lançar "Rhythm Traveller" nos EUA, no Japão e na Europa, incluindo uma temporada no Jazz Café (templo londrino do acid jazz), Romão também vai se apresentar no Brasil.
Em São Paulo, o baterista carioca tem shows agendados no Sesc Santo Amaro (dia 29) e no Sesc Paulista (dia 30, pelo projeto "Instrumental", com entrada franca). Duas chances raras de ouvir a lenda ao vivo.
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Disco: Rhythm Traveler Artista: Dom Um Romão Lançamento: Jazz Station/Natasha Quanto: R$ 18 (em média)



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