São Paulo, quarta, 4 de novembro de 1998

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U2 lança os dois lados da mesma moeda: a sua

MARCELO NEGROMONTE
da Redação

Urgência. Com táticas mercadológicas nunca antes adotadas no Brasil para vender um disco -inédito ou não-, chega hoje às lojas de 17 cidades brasileiras (de Caxias do Sul a Manaus) a primeira coletânea do irlandês U2, acompanhada pelo disco com os chamados, comercial e anacronicamente, lados B, com músicas lançadas anteriormente apenas em singles.
Lojas das principais capitais do país deveriam abrir hoje, à 0h, para começarem a dar vazão às 200 mil cópias, numeradas e não mais repostas nas prateleiras, de "U2 - The Best of 1980-1990". Os infelizes (será?) que não conseguirem comprar esse álbum duplo, caso todas as 200 mil cópias tiverem sido avassaladoramente devoradas, devem esperar até o dia 9, quando será lançado o disco da coletânea apenas.
Tudo cheira à caça-níquel selvagem. Da numeração do disco para dar ilusão de "limitação", expediente eficaz para fanáticos colecionadores, à abertura de lojas à meia-noite (por que não às 23h ou à 1h?), que remete a uma falsa idéia de demanda sedenta por U2. Técnica válida e usada no exterior para histerias como "Titanic", o vídeo, e Windows 95, o sistema operacional, ambos com alvos recicláveis e fugazes (adolescentes e computadores, respectivamente).
Talvez no Brasil isso não funcione a contento. Talvez, sim, o U2 seja a maior banda pop da atualidade, independente de seu peso musical. Tão grande quanto o telão-jumbo da PopMart, o ator principal da turnê que passou pelo Brasil.
São mais de 75 milhões de cópias vendidas (sabe-se lá a que horas) em 20 anos. O termo maior hoje é baseado em números somente, sabe-se. Por analogia, o countryman Garth Brooks é ainda maior, com seus 81 milhões de discos comercializados. Isso o faz mais ou menos importante?
Não importa. Clássicos da banda estão no apanhado da década passada: "Desire" (88), "Where the Streets Have No Name" (87), "Sunday Bloody Sunday" (83), "I Will Follow" (80), "When Loves Come to Town" (88), com B.B King nos vocais e guitarra, e mais outros nove incontestáveis hits, além da repaginada "Sweetest Thing", single desse álbum, mas anteriormente lançada, em "versão inacabada", no single "Where the Streets Have No Name" (87).
No disco de lados B -nomenclatura ultrapassada de quando discos tinham lados, usada hoje como quase um sinônimo de alternativo, raridade-, constam "Everlasting Love" (89), "Unchained Melody" (89), "Silver and Gold" (87) -esta também encontrável, ao vivo, no álbum "Rattle and Hum"- e a versão original de "Sweetest Thing", então produzida por Daniel Lanois, Brian Eno (produtores do álbum "The Unforgettable Fire", de 84) e o U2.
Completam as 15 músicas dos singles "Walk to the Water" (87), "Luminous Time (Hold on to Live)" (87), introspectivas e dramáticas, mas sempre muito pop, como quase o restante desse disco.
Pare de ler isso e corra para o disco nē 65.298. Não é o máximo?
˛

Disco: U2 - The Best of 1980-1990 Lançamento: PolyGram Quanto: R$ 36, em média



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