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Liz Phair mostra vida dupla em disco
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Cinco anos depois de parir o já
clássico "Exile in Guyville", um
dos discos mais contundentes de
toda a produção feminina no pop,
e de se firmar como referência com
"Whip-Smart", de 95, a cantora e
compositora norte-americana Liz
Phair está em crise.
"Whitechocolatespaceegg", lançado neste ano, por enquanto apenas fora do Brasil, mostra que a
maternidade -ela teve um filho
em dezembro de 96- pode não
ser a experiência de completitude
trombeteada por Madonna e (mais
marketeiramente ainda) por Xuxa.
O disco é permeado pelo desconforto, inadequação e dúvida. A atmosfera começa já nas fotos que
ilustram o CD, em que ela aparece
encolhida no oco de rochas e usando um salto alto, finíssimo, entre
pedras e arbustos.
E se escancara nas letras, como a
de "Headache" (Dor de Cabeça),
em que ela canta: "Em um lado de
mim está o inimigo, a outra metade está morta"; ou no lamento de
"Perfect World" (Mundo Perfeito): "Lúcifer não precisaria cair, se
tivesse aprendido a manter a boca
fechada".
Phair parece ter abandonado a
rebelião de "Guyville", concebido
como uma resposta a "Exile on
Main Street", dos Stones, e um ataque à cena totalmente masculina
do rock em Chicago no começo da
década.
Com ele (em um paralelo entre a
música e a gramática), Phair deixou claro que se recusa a ser posicionada como objeto e leva a voz e
o pensamento femininos à condição de sujeito -sexual, inclusive.
Mas essa protagonista que já havia dirigido sua metralhadora verbal para o mundo a sua volta, e expelido balas de honestidade, parece agora ter perdido o alvo.
Em "Whitechocolate" ela não
abandona os temas autobiográficos, como a sugestão de crise no
casamento em "Go on Ahead".
Mas nessa mesma canção revela
talvez a coisa mais importante sobre si mesma hoje: está enredada
numa vida dupla.
E o bebê parece ter papel fundamental nisso. "Quando ele nasceu,
comecei a me divertir sem precisar
de dinheiro ou drogas", disse a
uma revista norte-americana.
A divisão, no entanto, resulta em
boas canções como "Polyester Bride" -em que ela reproduz uma
conversa irreal com um barman-
, a climática música-título "White
Chocolate Space Egg" (desta vez
em palavras separadas) e a desiludida "Love Is Nothing" em que
aparece uma insuspeitada influência new wave, com direito a palminhas marcando o refrão.
Em alguns momentos, porém,
sua voz adquire a expressão da garota comum, quase desafinada,
quase inapropriada para a antiga
vida de rock star, como no baladão
"Only Son" -que tem, em contrapartida, a bela imagem do nascimento de bebês como um campo
cheio de papoulas.
Emblematicamente, o disco termina com "Girl's Room", uma espécie de ode à vida adolescente, ou
seja, ao passado.
Se não produziu uma obra-prima, o mínimo que se pode dizer é
que Phair continua contribuindo
para que ninguém esqueça que o
mundo não é cor-de-rosa -nem
dentro de um quarto de bebê.
²
Disco: Whitechocolatespaceegg
Artista: Liz Phair
Lançamento: Matador (importado)
Onde encomendar: Bizarre (tel: 011/220-7933), London Calling (tel: 011/223-5300)
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