São Paulo, quarta, 4 de novembro de 1998

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Damasceno constrói seu mundo com pontos

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Ponto para José Damasceno. Outro ponto para José Damasceno. Assim, com dois pontos, o artista carioca já constrói uma linha. E depois um desenho. E depois uma trama, na qual tenta capturar o espectador para assim transmitir-lhe todo o desejo de sua produção artística, que pode se resumir em um ponto: a tentativa de demonstrar a fisicalidade de um mundo imaginário.
É isso que acontece na mostra que ele inaugura hoje, às 19h, na galeria Camargo Vilaça, em que constrói na parede, por exemplo, três árvores com centenas de cigarros LM Lights.
"Procuro trazer esse mundo imaginário dos desenhos para o espaço real. Quero mostrar que isso é possível, mesmo em um mundo opressor como o nosso. É uma forma de mostrar que é possível pensar", disse.
São desenhos/instalações confeccionados com elementos disparatados, como pregos e elásticos ou suportes de partituras cortados e soldados aleatoriamente. "Tento trabalhar com elementos disparatados para que gerem um atrito que me interessa", disse.
Assim, a partir de uma atitude um tanto quanto surrealista (o desvirtuamento das funções de um objeto dado: cigarros, elásticos, pregos etc.), Damasceno acaba criando obras cuja característica maior não é a beleza ou a sua utilidade decorativa, mas sim tencionar a linha do pensamento, mostrar embates entre o real e o imaginário, conciliar o orgânico com o racionalizado e tornar possível o desejo.
Pintura
Enquanto a mostra de José Damasceno gira toda em torno das possibilidades do desenho, no andar de cima da galeria o Leitmotiv é outro: a pintura.
O mezanino abriga uma série de telas de Julie Roberts, que conta em seu currículo com a participação na mostra "Aperto", na bienal de Veneza de 1993.
A artista britânica isola objetos e ambientes em telas aparentemente monocromáticas. São manequins usados em aulas de medicina (acervo de um museu do gênero em Florença), próteses e instrumentação médica que parecem flutuar ou saltar da tela. Vale lembrar que os trabalhos de Rembrandt sobre dissecação de cadáveres são uma das influências da artista.
Mesmo quando pinta ambientes, como os locais de trabalho de Freud ou Darwin, permanece sua fixação, ainda que indireta, por processos de evolução ou repressão do corpo, algo que dá ao seu trabalho uma conotação um tanto quanto mórbida. Salas e corpos, com todas as suas contradições, se aproximam na busca de um ideal de perfeição.
²

Mostra: José Damasceno (desenhos, objetos e instalações) e Julie Roberts (pinturas) Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 011/210-7390, vila Madalena) Vernissage: hoje, às 20 Quando: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h. Até 30 de novembro Quanto: de US$ 3.000 a US$ 10.000 (trabalhos de José Damasceno) e de US$ 8.600 a US$ 24.000 (pinturas de Julie Roberts)



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