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Damasceno constrói seu mundo com pontos
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
Ponto para José Damasceno. Outro ponto para José Damasceno.
Assim, com dois pontos, o artista
carioca já constrói uma linha. E depois um desenho. E depois uma
trama, na qual tenta capturar o espectador para assim transmitir-lhe
todo o desejo de sua produção artística, que pode se resumir em um
ponto: a tentativa de demonstrar a
fisicalidade de um mundo imaginário.
É isso que acontece na mostra
que ele inaugura hoje, às 19h, na
galeria Camargo Vilaça, em que
constrói na parede, por exemplo,
três árvores com centenas de cigarros LM Lights.
"Procuro trazer esse mundo
imaginário dos desenhos para o
espaço real. Quero mostrar que isso é possível, mesmo em um mundo opressor como o nosso. É uma
forma de mostrar que é possível
pensar", disse.
São desenhos/instalações confeccionados com elementos disparatados, como pregos e elásticos
ou suportes de partituras cortados
e soldados aleatoriamente. "Tento
trabalhar com elementos disparatados para que gerem um atrito
que me interessa", disse.
Assim, a partir de uma atitude
um tanto quanto surrealista (o
desvirtuamento das funções de um
objeto dado: cigarros, elásticos,
pregos etc.), Damasceno acaba
criando obras cuja característica
maior não é a beleza ou a sua utilidade decorativa, mas sim tencionar a linha do pensamento, mostrar embates entre o real e o imaginário, conciliar o orgânico com o
racionalizado e tornar possível o
desejo.
Pintura
Enquanto a mostra de José Damasceno gira toda em torno das
possibilidades do desenho, no andar de cima da galeria o Leitmotiv
é outro: a pintura.
O mezanino abriga uma série de
telas de Julie Roberts, que conta
em seu currículo com a participação na mostra "Aperto", na bienal
de Veneza de 1993.
A artista britânica isola objetos e
ambientes em telas aparentemente
monocromáticas. São manequins
usados em aulas de medicina
(acervo de um museu do gênero
em Florença), próteses e instrumentação médica que parecem
flutuar ou saltar da tela. Vale lembrar que os trabalhos de Rembrandt sobre dissecação de cadáveres são uma das influências da
artista.
Mesmo quando pinta ambientes,
como os locais de trabalho de
Freud ou Darwin, permanece sua
fixação, ainda que indireta, por
processos de evolução ou repressão do corpo, algo que dá ao seu
trabalho uma conotação um tanto
quanto mórbida. Salas e corpos,
com todas as suas contradições, se
aproximam na busca de um ideal
de perfeição.
²
Mostra: José Damasceno (desenhos,
objetos e instalações) e Julie Roberts
(pinturas)
Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique
Coutinho, 1.500, tel. 011/210-7390, vila
Madalena)
Vernissage: hoje, às 20
Quando: de segunda a sexta, das 10h às
19h; sábado, das 10h às 14h. Até 30 de
novembro
Quanto: de US$ 3.000 a US$ 10.000
(trabalhos de José Damasceno) e de US$
8.600 a US$ 24.000 (pinturas de Julie
Roberts)
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