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Promotor pede multa e intervenção no "Ratinho'
DANIEL CASTRO
da Reportagem Local
Em ação civil pública que o Ministério Público Estadual encaminha amanhã ao Poder Judiciário, o
promotor Clilton Guimarães dos
Santos, 40, pede intervenção no
"Programa do Ratinho" como
pena alternativa a uma multa de
R$ 35 milhões -valor aproximado do lucro do SBT em 97.
No texto, ao qual a Folha teve
acesso com exclusividade, o promotor pede que o SBT seja obrigado a, em dias alternados, destinar
40% do tempo do "Programa do
Ratinho" para "programas educativos ou institucionais em defesa
dos direitos humanos, do meio
ambiente, do consumidor e de esclarecimentos contra as drogas".
Em outras palavras, o "Programa do Ratinho" teria de ceder
20% de seu tempo diário para essa
"programação", que seria produzida e custeada pela emissora.
Essa programação teria de ser
veiculada durante o "Programa
do Ratinho", das 20h30 às 22h30.
Richard Thomal, assessor jurídico do apresentador Carlos Massa,
o Ratinho, disse que só irá se pronunciar após ser notificado pela
Justiça. O departamento jurídico
do SBT não se manifestou. Ratinho não comenta o caso -não está dando entrevistas a jornalistas.
O promotor baseia sua ação em
gravações do "Programa do Ratinho", que contêm cenas de violência, e em reportagens publicadas pela Folha que mostram que
muitos dos "casos" exibidos pelo
apresentador eram farsas.
Santos cita na ação os pedreiros
desempregados Sebastião José de
Oliveira e Geraldo Barbosa de
Sousa, o motorista desempregado
Carlos Aparecido Pereira e o balconista Josmar Ramos.
Em reportagem publicada no último dia 18, Oliveira, Barbosa, Pereira e Ramos admitiram ter atuado em "armações" no "Programa do Ratinho", em troca de cachês que variavam de R$ 80 a R$
150 por dia. Eles participaram de
um esquema, que funcionava em
Mauá (Grande SP) e que fabricava
histórias para o programa.
Em sua ação, o promotor Santos
diz que o "Programa do Ratinho" aparentemente tenta mostrar a "realidade nua e crua",
mas que essa "realidade é, de fato,
apenas pretexto para o embuste
como método aparente de trabalho, para a farsa como fórmula
principal de atuação".
A pena principal pedida na ação
é uma multa de R$ 35 milhões, que
seria destinada a um fundo comum. Essa multa seria paga pelo
SBT, pelo próprio Ratinho, pelo
diretor Américo Ribeiro e pelos
principais patrocinadores da atração, os fabricantes dos produtos
In Natura e Viena Hair.
A base jurídica da ação é o artigo
221 da Constituição federal, que
diz que a programação das emissoras deve respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família.
"O programa estrutura-se no
insólito, no ridículo e no agressivo, numa fusão dos modelos das já
esquecidas lutas livres e de "O Povo na TV', resultando num conteúdo que não forma, não informa
e, antes, deseduca, criando ambiente de despromoção humana", diz Santos em sua ação.
O promotor pede também à Justiça que Ratinho cesse seu "zoológico virtual" e pare de "encher a
tela com mutilações físicas, desavenças, intrigas familiares, tapas,
chutes e pontapés".
Para tal, Santos pede ao juiz que
impeça que pessoas se agridam no
palco do programa e que sejam
proibidas "a exploração da imagem de pessoa portadora de deficiência e menores" e a "exibição
de qualquer tipo de violência".
Santos também pede que Carlos
Massa informe publicamente
quais foram os casos forjados exibidos em seu programa.
Pressionada pelo Ministério Público, a Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão) pediu na semana passada
explicações ao SBT sobre a exibição de farsas e sobre o suposto
desrespeito aos valores éticos.
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