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MÚSICA
Zizi Possi renega MPB com disco em italiano
PAULO VIEIRA
especial para a Folha
Enquanto a nata da MPB vai progressivamente se afundando em
discos cada vez mais preguiçosos,
uma de suas intérpretes radicaliza
no sentido oposto.
Zizi Possi, que vicejou nos 70/80
com hits radiofônicos pobrinhos
como "Perigo" e virou a mesa
com a elegância acústica de "Sobre Todas as Coisas", de 91, vai para o quarto rebento de sua fase
"chique", renegando a MPB.
"Per Amore", disco de canções
napolitanas, afasta uma privilegiada intérprete dos compositores a
quem sempre deu voz. Não há aí,
segundo ela, nenhum descontentamento pontual com a MPB nem
tampouco interesses sobretudo
pecuniários.
"Per Amore", há se acreditar na
cantora, foi gestado em uma incrível coincidência. Junho de 96: ela,
filha de pai e mãe italianos, ambos
oriundi, havia acabado de voltar
de uma viagem a Nápoles, quando,
no dia seguinte, seu irmão, o diretor de teatro José Possi Neto, organizou a celebração de 50 anos de
casamento dos pais.
Meses depois, em fevereiro, o
presidente da companhia fonográfica de Zizi sugeriu a gravação de
um disco em italiano, projeto acalentado pela cantora desde a tal
efeméride doméstica.
Em entrevista à Folha, Zizi usou
a expressão "fluxo de vida" para
explicar o interesse pelo repertório
-e também pela coincidência de
acontecimentos.
Com a maioria das músicas arranjadas para orquestra, Zizi sabe
das dificuldades que terá para divulgar seu novo disco. "Só farei
show com orquestra, ainda que de
câmara. Se meu show for em formato 'pocket' (bolso), ainda assim
será um elefante branco."
Para isso, diz ser necessário patrocínio e considera fundamental
contar os benefícios das leis de renúncia fiscal. Não crê se apresentar antes de março ou abril.
Aclamada como cantora de
grandes recursos, Zizi, que jamais
fez aula de canto, revela uma incrível modéstia. "Procurei a Celine
Imbert e descobri que não sei respirar. Só fazendo alguns exercícios
com ela consegui aumentar uma
sétima de extensão."
Zizi não usou seus novos conhecimentos no disco. No entanto,
mostra uma cantora familiarizada
com o que expele, não se poupando em músicas cujas versões originais ficaram marcadas pelo derramamento, como "Caruso", de
Lucio Dalla.
Zizi não fala italiano, mas "entende a língua muito bem". Ela
contou com auxílio do irmão, com
quem fez a pesquisa de repertório
na Itália -e que, por algumas vezes, atuou como intérprete.
Nascida no bairro do Brás, Zizi
afirma sua fé na música napolitana. "Ela tem uma beleza harmônica e melódica rara, é muito rica."
Mesmo preferindo gravar temas
antigos, também deu uma colher
de chá para os anos 70. "Não poderia jamais deixar de gravar 'Ho
Capito Que Ti Amo', que eu acho o
máximo", disse.
Com tanta abertura de possibilidades de repertório, Zizi não descarta regravar seus antigos sucessos num trabalho vindouro. "No
começo de minha carreira, eu fazia
o melhor que podia fazer dentro
do meu raciocínio limitado. Hoje,
seria diferente, faria arranjos diferentes. Eu gosto da maioria das
minhas músicas que as pessoas
acham brega."
Disco: Per Amore
Artista: Zizi Possi
Lançamento: Polygram
Quanto: R$ 18 (em média)
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