São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2001

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"Nos dedicamos a oferecer finais felizes"

BELÉN CABRIÁN
DO "EL PAÍS"

Quando era criança, Walt Disney lhe contava histórias. Seu nome é Roy Disney, e ele é presidente da maior fábrica mundial de sonhos. Produtor e roteirista, sobrinho do patriarca, enfrenta o desafio do século 21 tentando manter as características da Disney, sem perder o trem da tecnologia.
Aos 72 anos, Roy Disney é hoje o chefe de uma família cuja saga é a mais popular em todo o mundo do lazer e do entretenimento -e também o maior acionista individual da empresa. Roy trabalhou nela durante 25 anos como produtor, diretor e roteirista. Hoje, é vice-presidente da Disney e presidente de seu departamento de animação.

Pergunta - O mundo passará a ser diferente para a Disney depois de 11 de setembro?
Roy Disney -
Nossa empresa foi fundada logo antes da Grande Depressão dos anos 30. "Mickey Mouse" saiu em 1928, como uma espécie de símbolo de alguém que queria abrir caminho no mundo. Depois, em 1933, no auge da Depressão, Walt fez um filme chamado ""Os Três Porquinhos", no qual havia a canção "Quem Tem Medo do Lobo Mau?". É uma frase que, a meu ver, continua se aplicando ao mundo e a nossa empresa. Nós nos dedicamos ao negócio de oferecer um final feliz às pessoas, uma razão para manter a esperança viva.

Pergunta - A Disney vai conseguir manter o espírito no século 21?
Disney -
Muitas de nossas fontes foram histórias com uma moral básica sobre a vida e a humanidade, com valores subjacentes que não mudam com os séculos. Assim, vamos continuar a procurar esse tipo de história, mas será preciso narrá-las de maneira diferente. Vamos ter novas tecnologias, a técnica vai continuar a evoluir, mas a base será a mesma.

Pergunta - Você acha que, se seu pai e seu tio estivessem vivos, eles gostariam da Disney hoje?
Disney -
Espero que sim. Seja como for, o que mais me assusta nessa idéia é que Walt voltasse e começasse a mudar tudo. Era impossível, para ele, não tomar parte em tudo, e ele saía por aí dizendo que isto ou aquilo tinha que ser arrumado, que aquele outro não estava bom... Se ele voltasse hoje acho que deixaria todos malucos.

Pergunta - Que lembranças você tem de seu tio?
Disney -
Ele era um contador de histórias maravilhoso. Quando eu tinha por volta de 10 anos, ele e sua mulher vieram para casa jantar com meus pais. Eu estava doente, na cama, e Walt foi me cumprimentar. Ele disse: "Estamos trabalhando numa coisa nova". Era "Pinóquio". E ele passou uma meia hora me contando a história do filme. Era hipnótico. Ele fazia você ficar com os olhos grudados nos dele, fazia as vozes dos diferentes personagens, interpretava os papéis, construía castelos... e você não conseguia deixar de acreditar. Quando assisti ao filme, fiquei decepcionado.

Pergunta - Era assim nos estúdios?
Disney -
Sim, era uma inspiração magnífica para todos os artistas enquanto eles faziam o filme. Walt interpretava o que ele queria que fosse feito, e depois eles voltavam para suas mesas para tentar representar o que tinham visto da melhor maneira possível.

Pergunta - Qual é a mudança mais profunda que chamou sua atenção?
Disney -
A televisão. Essa foi a mudança mais abrangente e profunda. Ela passou a ter controle sobre nossas vidas. As crianças crescem com a TV ligada o tempo todo e estão habituadas a receber grande quantidade de informações, muito rapidamente e de diversas fontes, e sabem como organizá-las. Nos últimos filmes, percebemos que precisamos ser mais rápidos na narração, não podemos mais avançar de maneira lenta e gostosa, senão as crianças levantam e vão ao banheiro.


Tradução Clara Allain


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