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"Nos dedicamos a oferecer finais felizes"
BELÉN CABRIÁN
DO "EL PAÍS"
Quando era criança, Walt Disney lhe contava histórias. Seu nome é Roy Disney, e ele é presidente da maior fábrica mundial de sonhos. Produtor e roteirista, sobrinho do patriarca, enfrenta o desafio do século 21 tentando manter
as características da Disney, sem
perder o trem da tecnologia.
Aos 72 anos, Roy Disney é hoje
o chefe de uma família cuja saga é
a mais popular em todo o mundo
do lazer e do entretenimento -e
também o maior acionista individual da empresa. Roy trabalhou
nela durante 25 anos como produtor, diretor e roteirista. Hoje, é
vice-presidente da Disney e presidente de seu departamento de
animação.
Pergunta - O mundo passará a ser
diferente para a Disney depois de
11 de setembro?
Roy Disney - Nossa empresa foi
fundada logo antes da Grande Depressão dos anos 30. "Mickey
Mouse" saiu em 1928, como uma
espécie de símbolo de alguém que
queria abrir caminho no mundo.
Depois, em 1933, no auge da Depressão, Walt fez um filme chamado ""Os Três Porquinhos", no
qual havia a canção "Quem Tem
Medo do Lobo Mau?". É uma frase que, a meu ver, continua se
aplicando ao mundo e a nossa
empresa. Nós nos dedicamos ao
negócio de oferecer um final feliz
às pessoas, uma razão para manter a esperança viva.
Pergunta - A Disney vai conseguir
manter o espírito no século 21?
Disney - Muitas de nossas fontes
foram histórias com uma moral
básica sobre a vida e a humanidade, com valores subjacentes que
não mudam com os séculos. Assim, vamos continuar a procurar
esse tipo de história, mas será preciso narrá-las de maneira diferente. Vamos ter novas tecnologias, a
técnica vai continuar a evoluir,
mas a base será a mesma.
Pergunta - Você acha que, se seu
pai e seu tio estivessem vivos, eles
gostariam da Disney hoje?
Disney - Espero que sim. Seja como for, o que mais me assusta
nessa idéia é que Walt voltasse e
começasse a mudar tudo. Era impossível, para ele, não tomar parte
em tudo, e ele saía por aí dizendo
que isto ou aquilo tinha que ser
arrumado, que aquele outro não
estava bom... Se ele voltasse hoje
acho que deixaria todos malucos.
Pergunta - Que lembranças você
tem de seu tio?
Disney - Ele era um contador de
histórias maravilhoso. Quando eu
tinha por volta de 10 anos, ele e
sua mulher vieram para casa jantar com meus pais. Eu estava
doente, na cama, e Walt foi me
cumprimentar. Ele disse: "Estamos trabalhando numa coisa nova". Era "Pinóquio". E ele passou
uma meia hora me contando a
história do filme. Era hipnótico.
Ele fazia você ficar com os olhos
grudados nos dele, fazia as vozes
dos diferentes personagens, interpretava os papéis, construía castelos... e você não conseguia deixar
de acreditar. Quando assisti ao filme, fiquei decepcionado.
Pergunta - Era assim nos estúdios?
Disney - Sim, era uma inspiração
magnífica para todos os artistas
enquanto eles faziam o filme.
Walt interpretava o que ele queria
que fosse feito, e depois eles voltavam para suas mesas para tentar
representar o que tinham visto da
melhor maneira possível.
Pergunta - Qual é a mudança
mais profunda que chamou sua
atenção?
Disney - A televisão. Essa foi a
mudança mais abrangente e profunda. Ela passou a ter controle
sobre nossas vidas. As crianças
crescem com a TV ligada o tempo
todo e estão habituadas a receber
grande quantidade de informações, muito rapidamente e de diversas fontes, e sabem como organizá-las. Nos últimos filmes, percebemos que precisamos ser mais
rápidos na narração, não podemos mais avançar de maneira
lenta e gostosa, senão as crianças
levantam e vão ao banheiro.
Tradução Clara Allain
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