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O homem que revolucionou o cinema de animação tem o centenário de seu nascimento comemorado amanhã na Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood
Biografia mostra Walt Disney como dedo-duro e informante do FBI
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Quando a Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood, o lar do Oscar, abrir amanhã a sessão em homenagem ao
centenário de nascimento de
Walt Disney (1901-1966), que
acontece neste 5 de dezembro,
apenas uma faceta de um homem
polêmico será lembrada.
A do criador do Mickey Mouse,
o personagem infantil mais conhecido do mundo, que revolucionou o cinema de animação
com o longa "Branca de Neve e os
Sete Anões" (1937) e montou um
império do entretenimento que
perdura até o dia de hoje. Os números não mentem: além de
inaugurar um dos primeiros parques temáticos do mundo, a Disneylândia, WD produziu 497 curtas, 21 longas de animação e 56
longas (que renderam 29 Oscars),
mais 330 horas do "Clube do Mickey", 78 episódios de "Zorro" e
outros programas.
Mas é o outro lado de "Papai
Walt Disney" que parece encantar
as platéias cada vez mais. O do filho bastardo nascido de uma espanhola. O do menino que vestia
as roupas e maquiagens da mãe e
viraria mais tarde alcoólatra. O de
racista, reacionário, informante
secreto do FBI, simpatizante do
nazismo e dedo-duro dos colegas
no macarthismo.
Está tudo lá, na biografia cuja
versão em "paperback" chega às
lojas dos EUA em janeiro. É "Disney's World - A Biography" (O
Mundo de Disney - Uma Biografia), do britânico Leonard Mosely.
No aspecto ideológico, o livro
avança muito pouco o que já estava em "Para Ler o Pato Donald",
bíblia da esquerda latino-americana dos anos 70, escrita por Ariel
Dorfman e Armand Mattelart.
E ignora completamente uma
religião criada apenas para repudiar o império Disney. É a Igreja
do Não-Consumo, fundada há alguns anos em Nova York pelo
performático Bill Tallen. Semanalmente, ele encarna seu personagem mais famoso, Reverendo
Billy, que sai à rua para protestar.
Billy grita contra o consumo desenfreado e inconsequente dos
americanos, de preferência em
frente à loja da Disney da Quinta
Avenida.
Segundo a seita, cujo único
mandamento é "Não comprarás", Mickey Mouse é o anticristo,
e seu boneco lidera as passeatas
pendurado de ponta-cabeça numa cruz.
"Disney também roubou nossa
infância", disse Bill Talen/Reverendo Billy há alguns meses à Folha. "Não temos memória de
quando aprendemos a andar, só
sabemos como o Bambi aprendeu
a andar e nos emocionamos, e essa memória afetiva foi vendida
por uma multinacional."
"Branca de Neve"
Nem tudo são polêmicas nos
cem anos de Disney, no entanto.
Há algumas semanas, a empresa
lançou nova versão em DVD e vídeo do clássico dos clássicos em
animação, o conto de fadas
"Branca de Neve e os Sete Anões",
como já fez outras tantas vezes.
"São várias gerações se encantando com o desenho", diz o folheto promocional do estúdio. É
verdade. Desde que existe o videocassete e, depois, o DVD, a
Disney solta uma nova edição de
"Branca", que fica por um curto
período no mercado. Depois, todas as cópias são recolhidas.
A estratégia deu certo de novo.
Vendeu 1 milhão de exemplares
só no primeiro dia nos Estados
Unidos -8 milhões de cópias até
agora.
Assim, o desenho animado virou o segundo filme mais comprado em DVD e VHS no mundo,
atrás só de "Titanic".
Tradição oral germânica recolhida pelos irmãos Grimm no começo do século 19, o conto de fadas foi a primeira animação de
longa-metragem do cinema.
Começou a ser urdida em 1934 e
estreou três anos mais tarde.
Também nos últimos dias o estúdio lançou uma nova versão de
"Dumbo", que faz 50 anos. Mas
isso já é uma outra história...
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