São Paulo, terça-feira, 04 de dezembro de 2001

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O homem que revolucionou o cinema de animação tem o centenário de seu nascimento comemorado amanhã na Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood

Biografia mostra Walt Disney como dedo-duro e informante do FBI

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Quando a Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood, o lar do Oscar, abrir amanhã a sessão em homenagem ao centenário de nascimento de Walt Disney (1901-1966), que acontece neste 5 de dezembro, apenas uma faceta de um homem polêmico será lembrada.
A do criador do Mickey Mouse, o personagem infantil mais conhecido do mundo, que revolucionou o cinema de animação com o longa "Branca de Neve e os Sete Anões" (1937) e montou um império do entretenimento que perdura até o dia de hoje. Os números não mentem: além de inaugurar um dos primeiros parques temáticos do mundo, a Disneylândia, WD produziu 497 curtas, 21 longas de animação e 56 longas (que renderam 29 Oscars), mais 330 horas do "Clube do Mickey", 78 episódios de "Zorro" e outros programas.
Mas é o outro lado de "Papai Walt Disney" que parece encantar as platéias cada vez mais. O do filho bastardo nascido de uma espanhola. O do menino que vestia as roupas e maquiagens da mãe e viraria mais tarde alcoólatra. O de racista, reacionário, informante secreto do FBI, simpatizante do nazismo e dedo-duro dos colegas no macarthismo.
Está tudo lá, na biografia cuja versão em "paperback" chega às lojas dos EUA em janeiro. É "Disney's World - A Biography" (O Mundo de Disney - Uma Biografia), do britânico Leonard Mosely. No aspecto ideológico, o livro avança muito pouco o que já estava em "Para Ler o Pato Donald", bíblia da esquerda latino-americana dos anos 70, escrita por Ariel Dorfman e Armand Mattelart.
E ignora completamente uma religião criada apenas para repudiar o império Disney. É a Igreja do Não-Consumo, fundada há alguns anos em Nova York pelo performático Bill Tallen. Semanalmente, ele encarna seu personagem mais famoso, Reverendo Billy, que sai à rua para protestar. Billy grita contra o consumo desenfreado e inconsequente dos americanos, de preferência em frente à loja da Disney da Quinta Avenida.
Segundo a seita, cujo único mandamento é "Não comprarás", Mickey Mouse é o anticristo, e seu boneco lidera as passeatas pendurado de ponta-cabeça numa cruz.
"Disney também roubou nossa infância", disse Bill Talen/Reverendo Billy há alguns meses à Folha. "Não temos memória de quando aprendemos a andar, só sabemos como o Bambi aprendeu a andar e nos emocionamos, e essa memória afetiva foi vendida por uma multinacional."

"Branca de Neve"
Nem tudo são polêmicas nos cem anos de Disney, no entanto. Há algumas semanas, a empresa lançou nova versão em DVD e vídeo do clássico dos clássicos em animação, o conto de fadas "Branca de Neve e os Sete Anões", como já fez outras tantas vezes.
"São várias gerações se encantando com o desenho", diz o folheto promocional do estúdio. É verdade. Desde que existe o videocassete e, depois, o DVD, a Disney solta uma nova edição de "Branca", que fica por um curto período no mercado. Depois, todas as cópias são recolhidas.
A estratégia deu certo de novo. Vendeu 1 milhão de exemplares só no primeiro dia nos Estados Unidos -8 milhões de cópias até agora.
Assim, o desenho animado virou o segundo filme mais comprado em DVD e VHS no mundo, atrás só de "Titanic".
Tradição oral germânica recolhida pelos irmãos Grimm no começo do século 19, o conto de fadas foi a primeira animação de longa-metragem do cinema.
Começou a ser urdida em 1934 e estreou três anos mais tarde. Também nos últimos dias o estúdio lançou uma nova versão de "Dumbo", que faz 50 anos. Mas isso já é uma outra história...


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