São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coutinho e Rosa repassam seus fins e princípios

DA ENVIADA A ARAÇÁS

Numa luz minguante de domingo, encerradas as visitas aos personagens de seu filme, Eduardo Coutinho alinha duas cadeiras, de costas para o quintal onde se viu "O Fim e o Princípio".
Era o cenário para a última conversa do cineasta em Araçás. Olhos fixos em Rosa, o diretor encadeia suas perguntas. Por último, uma curiosidade: se convidada, a professora trocaria o sertão pelo Rio e a sala de aula pela produção de cinema?
Era o jeito de Coutinho desejar a Rosa um novo princípio. A agente da pastoral da criança diz que só sai de Araçás com o aval dos pais. "Porque conselho de pai e mãe é sempre para o bem."
Ponto final no diálogo, Rosa pergunta ao diretor se ele concorda em trocar de papel. Ela quer entrevistá-lo. Coutinho odeia dar entrevistas. Mas, em Araçás, ninguém diz não a Rosa.
"O senhor sente-se mal quando lhe chamam de velho?", ela indaga. "De velho não, de senhor, sim", ele responde. Dificilmente o diretor já terá ouvido pergunta mais direta. Uma dúvida, no entanto, Rosa calou. "Queria saber se nossa amizade continua", ela segreda à Folha.
Que resposta Rosa imagina para sua silenciada pergunta? Ela se cala de novo. E sai do silêncio: "Acho que ele ia dizer que continua. Mas também podia responder que isso é só uma profissão".
Entre o fim e o princípio, a volta de Coutinho a Araçás terminou com a eterna dúvida sobre o que se conquista durante a vida. (SA)


Texto Anterior: A 1ª sessão de cinema: Noite teve vento, pipoca e estrela ausente
Próximo Texto: Assis, 79, e Dôra, 98, se revêem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.