São Paulo, domingo, 04 de dezembro de 2005

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CRÍTICA

Nem o sobrenatural desafia caretice dos seriados

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O sobrenatural, vira-e-mexe, dá as caras nas séries de TV. Nesta última leva que estreou em novembro, pelo menos três (ou quatro, se considerarmos que extraterrestres são um assunto afim) lidam com fenômenos de explicação nebulosa. "Ghost Whisperer" e "Medium" (às 19h e às 20h, segunda na Sony), "Supernatural" e "Invasion" (terça e domingo, às 22h, na Warner) tentam pegar carona no sucesso de "Lost" ou recuperar o charme de "Arquivo X", mas nenhuma delas chega nem sequer perto de um ou outro.
O engraçado é que, noves fora espíritos, fantasmas, seres de outro planeta, mortos-vivos, maldições etc., em todas elas o entorno é de uma caretice sem igual. Os humanos dessas séries vivem imersos em questões comezinhas da vida doméstica, dramas familiares ordinários e personalidades muito, muito comuns. Os elementos não-humanos, por sua vez, pertencem a uma galeria já bem explorada de clichês.
"Ghost Whisperer", por exemplo, recicla um motivo bastante recorrente de ficção fantástica. A doce, meiga e absolutamente inexpressiva Jennifer Love-Hewitt, que depois de "Party of Five" não teve nenhum papel relevante, ouve gente morta que ainda não conseguiu "passar para o outro lado". E, claro, as ajuda a resolver suas pendências sentimentais na Terra para poder "fazer a travessia". O cinema já usou essa idéia muitas vezes, com resultados de médio para baixo; na TV, episódio após episódio, certamente não será melhor.
"Medium", pelo menos, tem Patricia Arquette, uma atriz com alguns recursos, mas tem o terrível defeito de se levar a sério. Os poderes paranormais da jovem mãe representada por Arquette são usados para resolver crimes, quase que tão mecanicamente quanto o povo de "CSI" reúne as provas "científicas". De resto, há a família e seus problemas cotidianos com a clássica contraposição entre a filha "ajustada" e a "esquisita", só que aqui o assustador é que não se tratam de adolescentes, mas de duas crianças com menos de 10 anos.
Em "Supernatural" há dois irmãos em busca do pai, que era, por sua vez, um caçador de criaturas malignas e desaparece misteriosamente. Com os agentes Mulder e Scully, eles enfrentam manifestações do mundo sobrenatural diferentes a cada episódio. Mais sombrio e misterioso que os outros, o seriado entretanto enreda-se excessivamente no drama - de novo, a rivalidade entre irmãos e uma mãe morta prematuramente em circunstâncias inexplicadas dão pano para a enrolação sentimental.
Em "Invasion", pelo menos, há um mundo mais caótico. As coisas estranhas envolvendo a presença de extraterrestres começam a acontecer em uma cidade devastada por um furacão. Se o cenário é menos comportado, por outro lado, há uma paranóia: é a ex-mulher do herói a principal suspeita de estar sob influência maléfica dos invasores...


@ - biabramo.tv@uol.com.br


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