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Claudia Raia faz musical "popular" de até R$ 200
Atriz estreia "Pernas pro Ar" em SP mirando "tribos que não frequentam o teatro"
Espetáculo dirigido por Cacá Carvalho conta história de dona de casa entediada que recebe do diabo ultimato para se reinventar
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Claudia Raia, 42, sonhou
com uma caixa branca que era
um microcosmo do universo
feminino. O cubo "andava pelo
Brasil inteiro, levando teatro
para as pessoas". Ao acordar,
traduziu a fantasia como "parte
de um projeto social, em que eu
poderia popularizar o musical,
um gênero caro e engessado
por seu tamanho".
"Pernas pro Ar", que estreia
em São Paulo hoje, de fato injeta bossa num formato que respira rigor e precisão -combinação que é meio caminho para
a frieza. A história da entediada
dona de casa Helô, que recebe
do diabo um ultimato para se
reinventar, é contada com as
protocolares coreografias, canções, números de sapateado e
percussão corporal.
Mas também com entrechos
de dramaturgia que remetem
ao besteirol e fariam corar os
produtores dos ingênuos títulos da Broadway transpostos
tal e qual para a cena brasileira.
A questão é o alcance do projeto social associado ao espetáculo. Para por em prática a
ideia de "encontrar tribos que
não frequentam o teatro", a
atriz conta com quatro patrocinadores, que financiam o espetáculo via Lei Rouanet.
A produção não divulga o orçamento, mas se trata de "um
empreendimento", como diz
Raia, com orquestra ao vivo, 12
bailarinos-cantores-atores em
cena, uma tecnologia de projeção inédita no país e uma equipe que soma 50 pessoas.
Até julho do ano que vem,
"Pernas" aportará em 17 capitais. Segundo a atriz, ONGs de
canto e artes cênicas serão convidadas a assistir a ensaios, e
haverá sessões abertas de um
making-of do musical. Também estão previstas apresentações gratuitas no pier Mauá, no
Rio, e em um hangar de vidro
em Belém.
Os ingressos para a minitemporada em São Paulo, entretanto, custam entre R$ 50 e R$
200. "Tenho ingressos de todos
os preços porque preciso sobreviver", afirma Raia.
Pernas, pra que te quero
No enredo do musical, o 1,10
m de pernas de Helô (Raia)
rouba o protagonismo da personagem ao criar vida própria
e, à revelia da dona, conduzi-la
a lugares como um ringue de
boxe, um terreiro de macumba
e um ônibus lotado. Fora de cena, a atriz reconhece a contribuição delas à sua imagem, mas
pondera que "soube aproveitar
a beleza como adendo para virar atriz":
"Não luto contra isso. É mais
uma coisa de que posso brincar.
Quem quiser imaginar que
imagine. Mas tampouco quero
ser refém dessa imagem."
E aproveita para dar sua versão de uma antiga anedota: a de
que teria segurado suas pernas
por US$ 1 milhão. "Não foi ideia
minha, mas de uma seguradora
que me patrocinava [no começo dos anos 90]. Jamais faria
seguro das minhas pernas."
Veterana em matéria de musicais (estreou no gênero em
86, com "A Chorus Line"), Raia
vê três lacunas na produção
brasileira contemporânea nesse formato: direção, dramaturgia e composição.
"Já temos elenco preparado
para manter cinco grandes musicais em cartaz ao mesmo tempo. Também há bons técnicos.
Mas ainda faltam diretores e,
sobretudo, compositores que
escrevam contando histórias.
Acho que o Lenine faria um belo musical. E o Chico [Buarque]
tinha de voltar a fazê-los."
Vinda de uma sequência de
musicais que inclui "O Beijo da
Mulher Aranha" (2001) e
"Sweet Charity" (2006), a atriz
planeja para breve uma incursão pelo "teatro experimental,
para 20 pessoas, em que você
passa um ano estudando".
Cacá
Carvalho, que a dirige aqui e está também à frente da Casa Laboratório, referência no teatro
de pesquisa paulistano, poderá
mostrar o caminho das pernas.
PERNAS PRO AR
Quando: estreia hoje, às 21h; amanhã,
às 21h, domingo, às 20h, e dias 10, 11 e
12, às 21h
Onde: teatro Bradesco (Bourbon Shopping - r. Turiassu, 2.100, 3º andar, tel.
0/xx/11/3670-4141)
Quanto: de R$ 50 a R$ 200
Classificação: 14 anos
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