São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010 |
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CRÍTICA ROMANCE Rubens Figueiredo revela trajeto marcado pela tristeza "Passageiro do Fim do Dia" narra viagem da qual todos saem derrotados ADRIANO SCHWARTZ ESPECIAL PARA A FOLHA Já nos primeiros parágrafos de "Passageiro do Fim do Dia", de Rubens Figueiredo, surge na voz do narrador uma ideia: "Não são os mimados, mas sim os adaptados que vão sobreviver. Pensando bem, não era tanto uma questão de hábito nem de mimos. Acontece que toda hora é hora de avançar na escala evolutiva, de subir mais um degrau". Pouco depois o leitor é avisado de que o protagonista, Pedro, carrega na mochila um livro sobre a vida e as ideias de Charles Darwin (1809-1882), e esse é um livro especial, pois estivera presente -e fora destruído (um outro exemplar, é claro)- em um momento trágico e decisivo, no qual ele tivera sua perna destroçada ao ser pisado por um cavalo da polícia. Na viagem de ônibus que faz em direção ao violento bairro da periferia em que mora a namorada, trechos da obra são lidos: chamam a atenção do rapaz as considerações do naturalista inglês sobre o Brasil, quando aqui esteve, sobre aranhas e vespas, sobre um escravo com quem tentou conversar. Mas há um incômodo permanente, que a certa altura do livro é anunciado. "Por isso Pedro tentava, sem grande esforço, é verdade, e sem nenhum método, mas tentava, imaginar se não haveria naqueles parágrafos, naquelas histórias, alguns indícios da teoria geral, que sem dúvida viria explicada num outro capítulo, algumas páginas adiante." É a palavra que dá nome a essa teoria geral, tão conhecida, que um texto aparentemente hesita em explicar e o outro, o romance, dá a impressão de testar a cada instante em que a narrativa sai de seu presente tenso -o trajeto do ônibus na direção de um local em conflito, na periferia- e parte para a memória de eventos que vão preenchendo o tempo e a mente de seu passageiro. Essas interpolações, que pontuam toda a narrativa, são histórias tristes, contadas sem ironia, cinismo ou pieguice (vale nomear a mais forte destas histórias, a que narra a ida ao supermercado com um cartão de compras fornecido pelo governo). Talvez elas venham em uma dose maior do que seria necessário, diluindo um pouco o impacto da obra. No final das contas, porém, talvez até isso faça sentido, porque deste romance "Passageiro do Fim do Dia" saem todos, em alguma medida, derrotados. ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP PASSAGEIRO DO FIM DO DIA AUTOR Rubens Figueiredo EDITORA Companhia das Letras QUANTO R$ 39,50 (200 págs.) AVALIAÇÃO ótimo Texto Anterior: Crítica/Memórias: "Conversas que Tive Comigo" reforça o mito de Mandela Próximo Texto: Painel das Letras: Carrero fará obra sobre AVC Índice | Comunicar Erros |
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