DA REPORTAGEM LOCAL

Até há pouco identificado com o teatro experimental carioca ("Escola de Bufões", "Epifanias"), aos poucos o diretor Moacyr Góes experimenta, literalmente, outro viés na carreira.
Depois de ingressar recentemente na televisão (ele é um dos diretores da novela das oito, "Laços de Família", da TV Globo), ele dá outra guinada: assina uma nova produção definida como "comédia cotidiana", contrastando com a densidade corrente de quem já encenou o sueco Strindberg, por exemplo. Trata-se de "Alarmes", do dramaturgo britânico Michael Frayn, o mesmo autor de "Copenhagen". Esta, como aquela, é sucesso na temporada atual na Broadway, o distrito teatral de Nova York.
Se em "Copenhagen" Frayn, 62, trata dos bastidores do descobrimento da teoria quântica, em "Alarmes" ele assume um tom mais escrachado para falar da incomunicabilidade no mundo contemporâneo, em contraste com a evolução tecnológica que deveria contribuir para encurtar distâncias.
"Frayn é um autor pouco conhecido entre nós, mas seus textos são inteligentes, ágeis, por isso decidi assumir essa comédia mais aberta", diz Góes.
"Alarmes" é dividida em quatro esquetes: "Conversa Íntima", "Duplos", "Imóveis" e "Brindes". Os atores André Valli, Cristina Pereira, João Camargo e Isabela Garcia estão presentes em todos.
São situações familiares, como a do quadro que dá título à peça, sobre um jantar de dois casais que acaba arruinado por aparelhos que começam a dar defeito, acarretando uma impossibilidade de relacionamento entre os amigos. Eles transformam os manuais de aparelhos eletrônicos em manuais para as suas próprias sobrevivências.
"Conversa Íntima" se passa numa festa em que os convidados tentam, mas não conseguem, ouvir uns aos outros, porque o som está alto. O terceiro quadro, "Duplos", o mais longo da montagem, trata da história de dois casais (novamente) que recorrem a viagens para lugares diferentes com um recurso para quebrar a rotina monótona.
Os casais estão hospedados em suítes contíguas e, assim como as semelhanças do ambiente, eles se ouvem repetindo os mesmos diálogos.
A última cena revela desentendimentos e desencontros de um casal que se comunica por meio de uma secretária eletrônica e por um telefone público. Os recados atolados na secretária emperram os códigos.
(VALMIR SANTOS)