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Bares paulistanos passam a utilizar cervejas do tipo stout em sopas, tortas e até sobremesas
Cerveja no prato
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Desculpa para encher a cara ou
não, a máxima está na boca dos irlandeses em seus pubs: um pint
(lê-se "páint", copo de 568 ml) de
Guinness por dia mantém o doutor distante -em inglês combina
melhor: "a pint of Guinness a day
keeps the Doc away".
(As cervejas da classe stout
-escuras, encorpadas, amargas,
com espuma consistente e sabor
"torrado"- contêm algumas
qualidades nutritivas que as faziam ser oferecidas a pacientes
hospitalares do país, no início do
século 20, pela capacidade de estimular a produção de glóbulos
vermelhos.)
Polêmicas sobre benefícios à
saúde à parte, nota-se que, no
Brasil, cresce o hábito de utilizar
stouts -cuja marca mais famosa
é a irlandesa Guinness- como
ingrediente culinário.
Aumenta o número de pubs em
cidades como São Paulo e Rio de
Janeiro, aumenta o cardápio de
pratos típicos ingleses e irlandeses. E chegam as novidades: a
Guinness aparece até como sobremesa. No paulistano Drake's
Bar & Deck, a cerveja vem na forma de sorvete.
"Há três meses comecei a mexer
nessa receita", explica o australiano Gregor Caisley, 28, chef do bar
e restaurante. "Conversava com
várias pessoas e, principalmente
as mulheres, diziam que não gostavam de Guinness porque é muito amarga. Pensei em criar algo
diferente com a cerveja e surgiu o
sorvete. E acabou ficando bom.
Pedia para alguns clientes adivinharem do que era feito. Diziam
que tinha gosto de caramelo, de
café."
Esse paladar é sentido porque as
stouts são feitas a partir de cevada
torrada, em processo semelhante
ao ocorrido com grãos de café. (É
bom lembrar que o sorvete de
Guinness, como todos os pratos
feitos com a cerveja, não deixa
ninguém de fogo, pois a bebida é
fervida e perde o teor alcoólico.)
A receita da sobremesa é segredo de Caisley, que vive no Brasil
há cinco anos. "Leva creme de leite e ovo. Sirvo com farofa de aveia,
nozes e açúcar mascavo, com raspa de chocolate em cima. Possui
três sabores marcantes: café, caramelo e o amargor da cerveja."
Na Europa, os pratos são feitos
com Guinness ou com outra marca de stout. Das brasileiras, pode
ser usada, por exemplo, a Xingu
-mas não cervejas pretas adocidadas como a Malzbier.
"Mas a maioria desses pratos
contêm outros ingredientes, e o
gosto de Guinness não fica tão
acentuado. No sorvete, o ingrediente que vai em maior quantidade é a Guinness", brinca, e polemiza, Caisley.
Stout na sopa
"A cerveja preta, pelo seu sabor
acentuado, fica muito bem, principalmente, com carne de caça",
diz o chef Marcelo Fávaro, do Tre
Cucina Italiana. "A bebida acrescenta um sabor de tostado e consegue-se encorpar o molho quando passa pela redução."
De inspiração belga, a sopa de
cebola feita por ele é preparada
com stout, e não com vinho. "A
cerveja é menos ácida do que o vinho e harmoniza bem com o adocicado da cebola. Acho que fica
mais aconchegante para tomar no
inverno", sugere.
Criada em 1759, em Dublin, por
Arthur Guinness -ele conseguiu
a concessão de um terreno de
quatro acres, por 9.000 anos, sob o
pagamento de 45 libras anuais-,
a cervejaria Guinness, em St. James Gate, é um dos principais
pontos turísticos da capital irlandesa e, como James Joyce (1822-1941), uma referência do país.
O Irish Stew (cozido irlandês)
"está para a Irlanda como a feijoada está para o Brasil", avalia Mário Fuchs, proprietário do Finnegan's Pub, em São Paulo. "A culinária irlandesa possui pratos consistentes, muitos deles inspirados
na cozinha nórdica, e a Guinness,
por ser uma cerveja forte, funciona bem com esse tipo de comida."
No O'Malleys, o prato é chamado de Baby Joyce e, em vez de cordeiro, é preparado com fraldinha.
Para acompanhar, um pão basta.
O All Black, também nos Jardins, tem como estrela de seu cardápio a Guinness pie. "É uma torta irlandesa recheada com cozido
de filé, batata e cenoura. Durante
o cozimento, a carne é misturada
à Guinness", diz Vivian Hinbmarsh, uma das sócias do pub. "O
nome na Irlanda é kidney pie e leva rim bovino no recheio."
Apesar de encorpadas, as stouts
têm menos calorias (120 kcal) do
que, por exemplo, a mesma quantidade de suco de laranja.
No Brasil, a Guinness é encontrada em 14 bares e/ou pubs na
sua versão "chope"; já a lata é vendida em vários pontos-de-venda.
Além das carnes, pode ser utilizada na preparação do Christmas
pudding (pudim natalino que leva uvas passas e frutas cristalizadas), de bolos e tortas -a Casa
Belfiori, na Barra Funda, prepara
um Guinness cake: bolo recheado
com frutas secas e nozes banhados em Guinness, acompanhado
por uma bola de sorvete de creme.
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