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MÚSICA ERUDITA
Gravadoras despejam discos por R$ 12
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
A música erudita quer pegar o
consumidor pelo bolso. A principal estratégia das gravadoras para
ampliar o mercado são as séries
"budget price" -discos que custam, para o consumidor final, cerca de R$ 12.
Comum no Reino Unido, a faixa
de preço "budget price" é novidade no Brasil. Começou no segundo semestre de 96, quando
PolyGram e EMI, líderes do mercado, lançaram, respectivamente,
as séries "Galleria" (Deutsche
Grammophon) e "Gold Classics", contendo gravações antigas
de intérpretes renomados.
"Antigamente, os únicos discos
clássicos baratos que havia nas lojas eram de má qualidade", afirma
Cláudio Rabello, gerente de clássicos e jazz da PolyGram. "O consumidor se sentia logrado e acabava
ficando desestimulado."
As outras gravadoras, como a
Sony, prometem investir na linha
"bom e barato". Além de lançamento de séries "budget", a terceira colocada no mercado nacional se preocupa com o marketing
direto. "Há poucas lojas especializadas no Brasil. A gravadora tem
que ter uma maneira de chegar diretamente ao consumidor de clássicos", afirma Daniela Boclin, do
marketing especial da Sony.
A BMG, que tem tido boas vendas com as compilações da série
"Greatest Hits", pretende trazer
ao Brasil, a "budget price", os
lançamentos do selo Artenova. E a
Warner prepara uma nova roupagem para a "Erato Collection".
Trata-se de uma coleção do selo
Erato, com gravações de intérpretes renomados, como a pianista
portuguesa Maria-João Pires.
Em âmbito internacional, o lançamento de séries "budget" é
uma reação das grandes gravadoras contra a Naxos -pequeno selo
de Hong Kong que, nos últimos
seis anos, com gravações boas de
intérpretes desconhecidos e preços muito baixos, conseguiu se firmar como o sexto do mundo, com
vendas em todo o planeta, Brasil
inclusive.
Mercado
O último grande "boom" do
mercado clássico brasileiro aconteceu em 94, quando o segundo
disco dos "Três Tenores" vendeu
620 mil cópias.
Depois, houve queda acentuada
nas vendas de LPs e fitas cassete e
crescimento no setor de CDs, mas
ainda insuficiente para atingir os
números daquele ano.
Em 96, de acordo com a ABPD
(Associação Brasileira dos Produtores de Disco), o mercado clássico cresceu 25,13% -índice que ficou abaixo da média geral, 31,5%.
"O grande estouro foi a época
em que todo mundo começou a
substituir os LPs clássicos por
CDs", afirma Amir Harif, gerente
de clássicos da BMG. "Isso já passou. Agora, o crescimento tende a
ser mais estável."
Fora do Brasil, há quem projete
cenários negros para o mercado
erudito de CDs. Lançado no Reino
Unido em 96, pela editora Simon &
Schuster, causou furor o livro
"When the Music Stops", de
Norman Lebrecht.
"Os clássicos representaram 6%
das vendas de discos no Reino
Unido no ano passado, e 4% no
mundo -houve uma época em
que eles comandaram um quarto
do mercado", escreveu Lebrecht,
em artigo recentemente publicado
na revista "Classic CD".
"When the Music Stops" denuncia o que ele chama de "coca-colização" da música, transformada em produto dominado
pela ganância das corporações e de
um "star system" dominado por
cachês elevadíssimos que ninguém
mais consegue pagar.
A invenção do CD estaria, para
Lebrecht, apressando o colapso do
sistema. Afinal, se você tem uma
gravação das sinfonias de Beethoven da qual gosta, com som perfeito, que vai durar para sempre, por
que adquirir outras?
Por isso, de acordo com o autor,
quaisquer números de crescimento do mercado são enganosos, pois
estariam sendo puxados por títulos "crossover" como "Três Tenores" ou Vanessa Mae, que mais
têm a ver com o pop que com a
música erudita.
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