São Paulo, quarta, 5 de fevereiro de 1997.

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Lourenço Mutarelli volta com seus quadrinhos ``psicogóticos''

free-lance para a Folha

``A Confluência da Forquilha'', quarto álbum do quadrinista paulistano Lourenço Mutarelli, já está à venda nas lojas especializadas em quadrinhos.
Mutarelli, ganhador do prêmio de melhor história do biênio na 1¦ Bienal Internacional de Quadrinhos, em 1991, não lançava um álbum havia três anos, desde ``Eu Te Amo Lucimar''.
``Confluência'' está sendo lançado com uma tiragem de mil exemplares e distribuído apenas para livrarias especializadas. Seu primeiro álbum, ``Transubstanciação'', teve uma tiragem de 25 mil números.
``A tiragem é critério do editor. Mas eu acho que ele está procurando um público certo, que goste do meu trabalho, e por isso a tiragem vem diminuindo gradualmente'', explica Mutarelli.
A maldição dos quadrinhos
Mutarelli exerce controle total sobre a produção de suas histórias: ele mesmo escreve, desenha, arte-finaliza e coloca as letras.
``Às vezes, eu vejo as coisas exatamente como as passo para o papel. Quando eu trabalho, eu `psicoquadrinizo'. Eu sento e a história flui. Talvez por isso eu tenha a necessidade de fazer tudo. Para ser mais fiel à idéia que me veio à mente ou à sensação de quando tive a idéia.''
E desenhar, que para alguns é um trabalho, e para outros um hobby, Mutarelli encara como uma necessidade. ``É meio uma terapia, meio uma obsessão''.
``Tem gente que acha que desenhar é uma bênção. Para mim, é uma maldição. Eu não consigo parar. Eu faço quadrinhos porque preciso'', diz.
``Eu me sinto um náufrago colocando bilhetinhos em uma garrafa. Não sei se vou alcançar alguém com isso, e nem se alguém vai conseguir me ajudar da forma que eu preciso.''
Antes, agora e amanhã
Quando começou, Mutarelli tentava publicar seus quadrinhos em revistas como "Animal" e "Chiclete com Banana", mas não conseguia.
``Os editores diziam que não divulgariam meus quadrinhos porque os consideravam muito diferentes do que o que era publicado'', diz.
Oito anos após sua estréia como quadrinista, Mutarelli ainda encontra dificuldade em classificar seu estilo. ``Não é terror, nem humor. Eu consigo classificar minhas histórias como `psicogóticas'. Elas são, talvez, uma mistura de gótico com estados de alma.''
``Eu não sei se o que faço é quadrinho. Eu gosto muita dessa fusão de imagens e textos. O que minha obra me lembra, e que me influenciou muito, é literatura de cordel. Mas talvez o que eu faço seja poesia'', diz o autor.
Seu próximo projeto é publicar um álbum que reúna obras lançadas há mais de sete anos, além de duas histórias inéditas.
Entre o material a ser lançado nesse álbum, ``Histórias Quase Esquecidas'', estão três versões de um mesma história: ``O Nada'', um roteiro que Mutarelli ``considerava muito bom, mas não conseguia passá-lo como queria em nenhuma das versões''. (PCA)

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