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Lourenço Mutarelli volta com
seus quadrinhos ``psicogóticos''
free-lance para a Folha
``A Confluência da Forquilha'',
quarto álbum do quadrinista paulistano Lourenço Mutarelli, já está
à venda nas lojas especializadas em
quadrinhos.
Mutarelli, ganhador do prêmio
de melhor história do biênio na 1¦
Bienal Internacional de Quadrinhos, em 1991, não lançava um álbum havia três anos, desde ``Eu Te
Amo Lucimar''.
``Confluência'' está sendo lançado com uma tiragem de mil exemplares e distribuído apenas para livrarias especializadas. Seu primeiro álbum, ``Transubstanciação'',
teve uma tiragem de 25 mil números.
``A tiragem é critério do editor.
Mas eu acho que ele está procurando um público certo, que goste do
meu trabalho, e por isso a tiragem
vem diminuindo gradualmente'',
explica Mutarelli.
A maldição dos quadrinhos
Mutarelli exerce controle total
sobre a produção de suas histórias:
ele mesmo escreve, desenha, arte-finaliza e coloca as letras.
``Às vezes, eu vejo as coisas exatamente como as passo para o papel. Quando eu trabalho, eu `psicoquadrinizo'. Eu sento e a história flui. Talvez por isso eu tenha a
necessidade de fazer tudo. Para ser
mais fiel à idéia que me veio à mente ou à sensação de quando tive a
idéia.''
E desenhar, que para alguns é
um trabalho, e para outros um
hobby, Mutarelli encara como
uma necessidade. ``É meio uma
terapia, meio uma obsessão''.
``Tem gente que acha que desenhar é uma bênção. Para mim, é
uma maldição. Eu não consigo parar. Eu faço quadrinhos porque
preciso'', diz.
``Eu me sinto um náufrago colocando bilhetinhos em uma garrafa.
Não sei se vou alcançar alguém
com isso, e nem se alguém vai conseguir me ajudar da forma que eu
preciso.''
Antes, agora e amanhã
Quando começou, Mutarelli tentava publicar seus quadrinhos em
revistas como "Animal" e "Chiclete com Banana", mas não conseguia.
``Os editores diziam que não divulgariam meus quadrinhos porque os consideravam muito diferentes do que o que era publicado'', diz.
Oito anos após sua estréia como
quadrinista, Mutarelli ainda encontra dificuldade em classificar
seu estilo. ``Não é terror, nem humor. Eu consigo classificar minhas
histórias como `psicogóticas'. Elas
são, talvez, uma mistura de gótico
com estados de alma.''
``Eu não sei se o que faço é quadrinho. Eu gosto muita dessa fusão
de imagens e textos. O que minha
obra me lembra, e que me influenciou muito, é literatura de cordel.
Mas talvez o que eu faço seja poesia'', diz o autor.
Seu próximo projeto é publicar
um álbum que reúna obras lançadas há mais de sete anos, além de
duas histórias inéditas.
Entre o material a ser lançado
nesse álbum, ``Histórias Quase
Esquecidas'', estão três versões de
um mesma história: ``O Nada'',
um roteiro que Mutarelli ``considerava muito bom, mas não conseguia passá-lo como queria em
nenhuma das versões''.
(PCA)
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