São Paulo, quarta, 5 de fevereiro de 1997.

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QUADRINHOS
Número de artistas brasileiros que trabalham para editoras americanas de gibis de heróis duplicou em 96
Brasil exporta desenhistas para os EUA

Reprodução/ Folha Imagem
Glory é uma heroína desenhada por Mike Deodato


LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Reportagem Local

Homem-Aranha ``made in Brazil'' não é ficção. O Brasil está se transformando em país exportador de desenhistas para os EUA.
No ano passado, o número de brasileiros desenhando nos EUA duplicou em relação a 1995.
Hoje, 25 brasileiros trabalham nos EUA, mas nem todos são responsáveis por títulos fixos.
A mais conhecida editora de quadrinhos dos EUA, a Marvel -que ocupa 37% do mercado norte-americano- emprega 13 brasileiros, que fazem os desenhos de Homem-Aranha, X-Men, Thor, Hulk e outros.
É um mercado recente. O primeiro brasileiro a entrar na editora foi Roger Cruz, em 1993. E todos são agenciados pela empresa paulista Art & Comics.
``A gente treina e prepara o pessoal para entrar no mercado norte-americano. O brasil, hoje, virou um celeiro de desenhistas'', diz Hélcio de Carvalho, 43, dono da Art & Comics.
Mulher-Maravilha
A principal estrela brasileira desse mercado é o paraibano Deodato Taumaturgo Borges Filho, 33, que, depois que começou a trabalhar para o mercado norte-americano, em 1992, adotou o nome artístico de Mike Deodato.
``Mike foi invenção dos homens'', diz Deodato, referindo-se aos norte-americanos.
Aliás, alterações de nome para atender à exigência do empregador são comuns no mercado de histórias em quadrinhos.
Com o nome americanizado, Mike ganhou notoriedade ao desenhar a Mulher-Maravilha.
O personagem é famoso -ganhou, inclusive, uma série televisiva. Mas a revista da heroína andava meio por baixo, com uma vendagem pequena. Com a Mulher-Maravilha sendo desenhada por Deodato, a tiragem do gibi nos EUA pulou de 35 mil para 75 mil.
O paraibano se tornou uma celebridade no meio. Ele chegou a ficar entre os dez mais populares desenhistas de história em quadrinhos nos EUA.
A fórmula do sucesso de Deodato com a Mulher-Maravilha é simples. Para um brasileiro.
``Eles são muito conservadores. Puxei o biquíni, aumentei a bunda, peito e coxa. Deixei ela bem gostosona e bem violenta. Queria aparecer e exagerei mesmo'', explica.
Deodato acabou ganhando fama como um desenhista de personagens femininos. E o detalhe é que ele nunca havia desenhado mulheres antes.
No Brasil, seu traço pode ser visto na revista de Glory, uma personagem nova. Lá fora, atualmente, ele faz os clássicos Elektra e Hulk.
E entrou em uma concorrência para ser o novo desenhista do Capitão América após o término do contrato de Rob Liefeld.
Pioneiro
O gosto pelos quadrinhos veio de berço. Seu pai, Deodato Taumaturgo Borges criou a primeira revista em quadrinhos do nordeste, ``As Aventuras do Flama''.
Com um professor dentro de casa, ele começou a desenhar cedo. Foi influenciado principalmente pelas histórias em quadrinhos norte-americanas de super-heróis.
Entre tantos desenhistas, Deodato gostava do trabalho de Neal Adams -que desenhou o Batman- e de Will Eisner -o criador do Spirit.
No Brasil, ele passou dez anos desenhando histórias de ficção científica e terror apenas como hobby.
Mas o que pagava suas contas no final do mês era seu trabalho em jornais e agências de publicidade em João Pessoa, onde ainda mora.
Hoje, Deodato já consegue viver das histórias em quadrinhos. Ele não revela quanto ganha, mas diz que, quem está começando recebe entre US$ 100 e US$ 200 por página desenhada. Mas há quem receba mais.
``O Adam Kubert recebe US$ 35 mil para fazer 22 páginas da revista do Wolverine'', exemplifica.
Isso em um mercado que está em crise. ``Tem muita gente desempregada'', constata.

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