|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Morre a explosiva poeta Hilda Hilst
Eder Chiodetto
|
A escritora paulista Hilda Hilst, que morreu ontem, caminha pela sua chácara "Casa do Sol", em Campinas (SP) |
Aos 73 anos, uma das principais autoras do país era marcada pela originalidade de seus 40 livros
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreu Hilda Hilst. Uma das
escritoras mais explosivas do século 20 brasileiro, ela tinha 73
anos e foi derrotada por uma deficiência crônica cardíaca e pulmonar no Hospital da Unicamp, em
Campinas, onde seria enterrada
na tarde de ontem.
Paulista de Jaú, Hilst tinha mais
de cinco décadas de literatura. A
poeta (ai de quem a chamasse de
poetisa: "Aí fico raivosa. Dá idéia
de moça prendada") estreou em
1950, com "Presságios", e depois
imprimiu outros 40 volumes.
Quase tantos eram os prêmios
que equilibrava, com certo desprezo, sobre a lareira de seu casarão, a mítica Casa do Sol, chácara
a 11 km de Campinas onde vivia
há 40 anos, só, sem maridos e filhos, cercada por dezenas de vira-latas (no último censo eram 64).
Mais do que prêmios, mais do
que cães, acima de tudo, Hilda
Hilst foi conhecida por sua ousadia e pela inovação sem freios. O
maior crítico brasileiro, Antonio
Candido, 85, ressaltou ontem à
Folha justamente sua originalidade e coragem.
O vanguardismo da autora de
"Júbilo, Memória, Noviciado da
Paixão" fez com que seus livros
saíssem sempre em editoras pequenas, com tiragens exíguas e o
carimbo invisível de "maldita".
"Nunca achei que iam me ler
mesmo. Mas nunca entendi por
que me achavam difícil", disse
Hilst à Folha em entrevista em
2002. Nesse ano, a poeta ganhava
pela primeira vez reimpressões
por uma grande editora, a Globo,
que desde então já publicou 11 volumes, aos quais se juntarão "Baladas", em fevereiro, e "O Caderno Rosa de Lori Lamby", em abril.
O organizador de suas obras
completas, Alcir Pécora, diz que
não existia nada rigorosamente
inédito a ser publicado. "Mas a
maior parte de sua obra era inédita, no sentido de que não se conhecia. Eram edições artesanais."
Na entrevista à Folha de dois
anos atrás, ela disse estar voltando
a escrever. O livro "O Koisa" tratava de um "caroço da azeitona de
uma empada". Logo emendou,
agitando um dos 40 cigarros que
fumava todo dia (o amigo Mora
Fuentes, 53, disse ontem que um
cigarro foi o último pedido da autora), que sempre escrevia sobre
si mesma. "Por isso que você faz
ficção, para exercitar a imaginação de você mesma."
Sua imaginação cabia em todos
os moldes: poesia, prosa, crônica,
teatro (seu predileto era "Kadosh": "Todo mundo achou chato. O brasileiro não lê picas", disse
em "hilstês"). "A loucura", dizia,
era o elemento que unia sua obra.
Nos últimos anos, Hilst se dedicava ao lado espiritual. "Imortalidade é minha maior crença", repetia. Na conversa com a Folha, a
escritora se despediu, copo de uísque na mão, dizendo que a alma
era imortal. "Vou morrer, mas
vou continuar fazendo poemas."
Texto Anterior: Programação Próximo Texto: Repercussão Índice
|