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ANÁLISE
Obra da autora dispensa o anedotário
ALCIR PÉCORA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quando rabisco esta
nota, sob o impacto
afetivo irredimível da morte
da amiga de tantos anos,
consola-me imaginar que a
literatura de Hilda Hilst mal
começa a produzir a interlocução que suscita e merece,
no Brasil e fora dele.
Como organizador do relançamento do conjunto de
sua obra, o meu desejo, partilhado por ela, sempre foi o
de reduzir ao máximo a submissão dos textos ao vasto
pitoresco produzido a seu
respeito. Não interessa esse
anedotário, menos porque
seja completamente fantasioso e frívolo, sobretudo em
se tratando de quem, como
ela, desde os fins dos anos 60
viveu reclusa numa casa nos
arredores de Campinas, cercada apenas de poucos amigos e muitos livros (no que
mais se assemelhava a uma
vida monástica), do que
simplesmente porque, muitas vezes, simula resultar da
leitura de seus textos. Nada
mais falso. Estes são muito
mais complexos, inteligentes e inventivos não apenas
do que as circunstâncias curiosas ou excêntricas de sua
vida possam sugerir, como
também do que quase todo o
produzido em poesia e prosa, no Brasil, no último quarto do século 20.
Alcir Pécora é professor de teoria
literária na Unicamp e organizador das obras reunidas de Hilda
Hilst, pela editora Globo
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