São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

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ANÁLISE

Obra da autora dispensa o anedotário

ALCIR PÉCORA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando rabisco esta nota, sob o impacto afetivo irredimível da morte da amiga de tantos anos, consola-me imaginar que a literatura de Hilda Hilst mal começa a produzir a interlocução que suscita e merece, no Brasil e fora dele.
Como organizador do relançamento do conjunto de sua obra, o meu desejo, partilhado por ela, sempre foi o de reduzir ao máximo a submissão dos textos ao vasto pitoresco produzido a seu respeito. Não interessa esse anedotário, menos porque seja completamente fantasioso e frívolo, sobretudo em se tratando de quem, como ela, desde os fins dos anos 60 viveu reclusa numa casa nos arredores de Campinas, cercada apenas de poucos amigos e muitos livros (no que mais se assemelhava a uma vida monástica), do que simplesmente porque, muitas vezes, simula resultar da leitura de seus textos. Nada mais falso. Estes são muito mais complexos, inteligentes e inventivos não apenas do que as circunstâncias curiosas ou excêntricas de sua vida possam sugerir, como também do que quase todo o produzido em poesia e prosa, no Brasil, no último quarto do século 20.


Alcir Pécora é professor de teoria literária na Unicamp e organizador das obras reunidas de Hilda Hilst, pela editora Globo


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