São Paulo, domingo, 05 de fevereiro de 2006

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MÔNICA BERGAMO

Uma tarde do Casseta

Coluna passa dia com a trupe, que lança filme no 2º semestre; sobra para Lula, Marta, atores, atrizes...

Luciana Whitaker/Folha Imagem
O ator Murilo Benício e os comediantes Maria Paula e Marcelo Madureira em cena do longa "Seus Problemas Acabaram"


Bussunda está sentado em um vaso sanitário, dentro de um barraco de madeira, o barrigão saindo para fora da camiseta velha e furada, quando o diretor grita: "Atenção! Silêncio! Gravando!" O humorista pega um pedaço de bambu com uma trouxa amarrada na ponta, coloca no ombro e deixa o barraco.
 

"Eu estou saindo da merda", explica Bussunda, que em "Seus Problemas Acabaram!", dirigido por José Lavigne, novo filme da trupe humorística global Casseta & Planeta, faz Lindauro, um sujeito que se dá mal como cobaia de um remédio das Organizações Tabajara.
 

A coluna passou uma tarde com parte do elenco no set, acompanhando a filmagem. Além de Bussunda, estavam lá Marcelo Madureira, Maria Paula e Murilo Benício, ator convidado. É a segunda tentativa do grupo de transformar o programa em filme -a primeira, "A Taça do Mundo é Nossa", em 2003, não teve muito sucesso.
 

Desta vez, a eficácia dos produtos das Organizações Tabajara foi colocada em cheque e está sendo julgada num tribunal. As vítimas são defendidas pelo advogado Botelho Pinto, interpretado por Benício.
 

Em outra cena, Marcelo Madureira é um juiz que chora, em uma cama de hospital, inconformado com o desaparecimento de seu peixinho. Maria Paula e Benício o consolam com duas frases, e isso demora sete ensaios mais a tomada definitiva.
 

Benício é o primeiro a sair do set, depois da gravação, para se assistir no monitor colocado fora do cenário. Mas os atores não costumam dizer que ficam constrangidos em se ver no vídeo? "Eu detesto, mas nesse caso achei que poderia estar over. O foco era neles, não queria atrapalhar", diz o ator, que na cena alterna tons de voz para "passar" nervosismo cômico.
 

Marcelo Madureira explica que é preciso estudar muito para ser ator. "Eu estudei engenharia de produção", diz ele. "Não é fácil, o cara tem de ter pelo menos três de Q.I. Olha o caso do Lula: coloriu dois livrinhos na infância e virou esse talento da representação".
 

José Lavigne chama o que Madureira, Bussunda e seus colegas de elenco fazem em cena de "estilização de representação": "Os Cassetas nunca vão atuar como a Fernanda Montenegro. Para eles, não existe uma razão psicológica para estar ali".
 

Bussunda diz que trabalhar com ator é "diferentão". "A gente está acostumado a olhar para a câmera, falar com o público. O ator olha no seu olho, esperando uma reação, você fica até sem graça. O cara entra numa."
 

José Lavigne libera os técnicos e atores para um intervalo, depois da segunda cena gravada. Marcelo Madureira entra no camarim gritando: "Uma bicha pra tirar a minha maquiagem, uma bicha por favor!"
 

Ele diz que está preparando um show de esquetes para o segundo semestre, no qual fará sexo com animais.
Todos parecem cômicos fora de cena, o que derruba a tese de que a maioria dos humoristas é mal-humorada. Ou não? "Claro que não! É um clássico. Eles são muito críticos, estão sempre reclamando de tudo, vivem de mau humor", diz o diretor Lavigne, 19 anos de experiência em humorísticos como "Os Trapalhões", "Doris para Maiores", "TV Pirata" e o próprio "Casseta & Planeta".
 

E quem é o mais mal-humorado? "O Cláudio Manuel ganha de todos. Você diz pra ele: "Cláudio, tem um comercial sensacional para você, não precisa sair de casa, e o cachê é R$ 200 mil", e ele reage assim: "Comercial!? Tá louco? Vai se ferrar, não quero!", entrega Lavigne.
 

Outros exemplos de mal-humorados incorrigíveis, de acordo com o diretor: "A Regina Casé é jogo duro. O Pedro Cardoso também".
 

Animadíssima em seu camarim, Maria Paula desfaz todas as lendas: alisando o megahair avermelhado, dentro de um microvestido preto de bolinhas brancas, muito sexy sobre uma sandália alta, ela diz que é "o bom humor em pessoa": "Já acordo cantando". Também adora se ver na TV. "Gosto muito, me assisto sempre."
 

De fato, ela resiste, rindo, a provocações do repórter como: você não é mais apresentadora nem propriamente uma atriz; não tem medo de ficar desempregada quando a fórmula dos cassetas se esgotar? "Nada! Existe vida feliz fora da Globo. Sou formada em psicologia e escrevo uma coluna no (jornal) "Correio Braziliense"."
 

Nora de Eduardo e Marta Suplicy, ela diz que não é politizada. "Nasci em Brasília, é como se eu tivesse sido vacinada." Qual a sua reação quando dizem que a Marta fez uma administração muito ruim na Prefeitura? "Olha, eu só sei que tenho um sogro fodão. O cara é bom, super respeitado em Brasília."
 

E a sogra? "A Marta que eu conheço é uma avó fantástica, trata minha filha como uma princesa." Votou nela? "Não voto em São Paulo, mas anularia meu voto. Sempre faço isso."
 

Murilo Benício passa pelo corredor e, no embalo das perguntas pessoais, a reportagem quer saber: por que você se casa com mulheres com quem contracena? Ele dá um sorriso de galã de novela, de lado, e sai sem responder. Marcelo Madureira responde: "Isso é mentira. Ele não se casou com a Nathalia Timberg, nem com a Joanna Fomm, nem com a Tonia Carrero. Ele só pega as pouco rodadas".
 

De volta para mais uma cena, José Lavigne mostra o bonequinho com cara de William Shakespeare que costuma colocar junto ao monitor e diz: "Se eu pegar pelo menos 2% da inspiração dele, está ótimo".
 

No fim, Lavigne conta o segredo de lidar com sete humoristas, a maioria "hiperativa" e mal-humorada: "Nunca converso coisa séria com os sete juntos. As reuniões aqui são todas pro forma. Tudo é resolvido individualmente". (PAULO SAMPAIO)


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