São Paulo, quarta, 5 de março de 1997.

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ARTES PLÁSTICAS
Mostra traz inéditos
Cemin quebra ineditismo em São Paulo

Evelson de Freitas/ Folha Imagem
O artista plástico brasileiro Saint Clair Cemin e sua obra inédita "Enxada", realizada em bronze e madeira


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O artista plástico brasileiro radicado em Nova York desde 1978 Saint Clair Cemin participou da 9¦ Documenta de Kassel (1992), esteve na 22¦ Bienal Internacional de São Paulo (1995) e frequenta as mais importantes galerias dos EUA e Europa. Estranhamente, ainda não havia realizado uma individual de esculturas na cidade.
O ineditismo termina hoje, às 20h, quando ele apresenta na galeria Camargo Vilaça seis trabalhos inéditos, criados especialmente para a mostra no país.
Seus trabalhos trazem remissões a um universo popular, operário ou agrário, lembranças do curto período que passou em Cruz Alta (RS), sua cidade natal.
Também são resultado de ele haver preparado a mostra para o Brasil. ``É essa parte do Brasil que eu vejo. Eu me preocupo muito pouco com o Brasil elite. Tenho uma grande simpatia pelo Brasil popular, operário, camponês. Não é uma preocupação política, mas mais sentimental.''
Sua ``Enxada'', por exemplo, funciona como mimese de todo o universo que a rodeia e que faz parte do imaginário poético de Saint Clair Cemin.
Ao mesmo tempo em que refaz um itinerário de sua infância, remete ainda às influências surrealistas, manifestadas aqui nas inversões de medidas e também no corpo da mulher que se dilui em sua lâmina de bronze.
Seu cabo, como que manualmente talhado, reafirma o trabalho do artesão, artista e criador.
A peça brilha ainda em seu tingimento azul monocromático, como a luminosidade do céu e com a mesma força da luz que cega o camponês.
Outras peças misturam lembranças vividas e arqueológicas. ``Similis Sum Folio'', por exemplo, mistura o universo operário do carrinho de mão com referências históricas, como a máscara greco-romana que lhe serve de ``berço''. A pátina esverdeada remete ainda às marcas do curso da história.
Em ``Rezador de Rodas'', Cemin deixa suas influências barrocas na releitura de um profeta de Aleijadinho, que, ironicamente, representa seu próprio autor, ao se utilizar do carrinho como artifício de locomoção.
``Eu me sinto muito mais próximo do Brasil barroco que do Brasil moderno. O fato de eu gostar de trabalhar os materiais, a madeira, eu me identifico mais, digamos, com o construtor que com o arquiteto'', disse.
As peças encantam ainda pelo uso de materiais dos mais diversos, como madeira, aço, lápis-lazúli, mármore e outros.

Mostra: Saint Clair Cemin (cinco esculturas inéditas e uma em série de cinco)
Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 011/210-7390, Vila Madalena)
Vernissage: hoje, às 20h
Quando: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h; até 27 de março



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